Capítulo 2

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Mas sabes aquela sensação de quando o tens?
Aquela sensação de nervosismo e felicidade conjugados num só...
Sabe tão bem...
Mas e quando isto não chega?
O que se faz quando o amor que sinto não é suficiente?
O amor que sinto por ele não é suficiente para esquecer o resto do mundo!
O amor dele não substitui amizades, apesar de as ter substituído...
O amor dele não chega para viver.
Aquelas pessoas que dizem que o amor é tudo o que precisam não sabem do que falam! Essas pessoas não têm noção da mentira que dizem.
Porque a verdade é que o amor não chega. O amor não chega nem para ser feliz, nem para viver.
E se há alguém que tenha dúvidas disso que me diga, porque amor não é sinónimo de felicidade e muito menos de vida.
A verdade é que o amor não chega para tudo: o amor não chega para ser feliz, o amor não chega para querer viver, o amor não chega para não querer morrer, o amor não chega para deixar de ter medo, o amor não chega para acreditar, o amor não chega para não desistir, o amor não chega para viver.
Tudo o que posso pedir do amor, tenho.
Mas tudo o que posso pedir da vida, não tenho.

Acordei de manhã com preguiça de me levantar, como acontece todas as manhãs de inverno, em que os lençóis estão quentes e me abraçam durante a noite toda.
Desliguei o alarme do telemóvel, que pousei na mesa de cabeceira ao lado da minha cama, e levantei-me.
Verifiquei se tinha alguma mensagem de skype, SMS ou até do Whatsapp, mas não tinha nada. Apenas uma mensagem do skype do meu namorado a dizer "Bom dia". Bloquei o ecrã e vesti-me.
Alguns minutos mais tarde já estou no autocarro. Tiro os headphones da minha mochila, coloco-os nos meus ouvidos e ponho uma música qualquer a tocar.
Nem presto atenção à canção, só consigo pensar no que tenho feito...
Nos problemas que se têm vindo a acumular na minha vida e que eu não consigo resolver...
Hoje nem sei o que vou fazer: tenho tudo e todos contra mim...
Posso tentar construir uma vida nova todas as vezes que me levanto, mas acabo sempre a fazer porcaria e a acabar com a vida que construí. Odeio ver-me estragar tudo, mas a verdade é que é uma coisa que eu não consigo evitar, não que queira estragar tudo, mas não consigo perceber que o que tenho é suficiente e então tento ter mais, mais e mais e acabo sempre com o nada nas minhas mãos.
Se me entrego ao mundo, entrego-me à morte e talvez até à infelicidade, porque morta já eu estou psicologicamente, mesmo que fisicamente ainda esteja viva.
Sinceramente, preferia mesmo estar morta também fisicamente, assim não causava o sofrimento a ninguém sempre que me viam de manhã.
Sou fiteira e tudo o que consigo fazer é manipular os outros, mas a verdade é que manipular é a única coisa que consigo fazer. E depois de manipular as minhas melhores amigas, viro o tabuleiro do jogo, fazendo com que as culpadas sejam elas e não eu.
A verdade é que este truque resultou bem durante dois anos, mas agora as pessoas deixaram de acreditar.
No outro dia, estava a andar pelo pátio, a fingir que falava ao telemóvel, só para poder estar sozinha um bocado, e ouvi a Jade a dizer à minha melhor amiga "O que a Joana fez foi merda. Não há outro nome para a merda que ela fez!"...
Fiquei tristíssima e talvez tenha sido essa a razão pela qual bati com a cabeça contra a parede, para me concentrar na dor física e não na psicológica porque o mais grave acima disto tudo é saber que essa merda sou eu. Saber que quem faz essa merda, fui eu. Saber que não consigo evitar fazer merda. Saber que é assim que sou e que não há maneira de mudar.
Dizem que quem quer, consegue. Mas em verdade vos digo que quero e que não consigo.
Não consigo ser verdadeira com ninguém, não consigo pensar claramente nas coisas sem acrescentar pontos e linhas às histórias, não consigo confiar em ninguém, também porque ninguém me compreende, mas essencialmente porque não me consigo compreender a mim própria.
Se sou louca? Talvez.
Mas não é essa a razão pela qual me odeio.
Talvez a razão seja a minha vida, a minha cara, o meu corpo, as minhas mãos, as minhas amigas e até mesmo a minha personalidade.
Sinto-me desiludida com toda a gente, mesmo que a única culpada tenha sido eu.
Ontem, recebi uma mensagem da minha amiga Bela que dizia:

Olá, Joana.
Sinceramente, não acho normal o que andaste a fazer. Inventaste um namorado, dando-te ao trabalho de inventar um nome, de alterar fotografias, de criar uma conversa numa aplicação para "fakes"...
Depois, choras à minha frente e juras a pés juntos que o amas e que ele existe.
Já não posso confiar em ti...
Como é que é suposto eu continuar a acreditar em ti, se tudo não passava de uma mentira?
Gostava de perceber, mas tu não queres explicar, e o que explicas são mentiras (mais mentiras).
Fizeste tudo pelo António... Claro que sim... É que nem faz sentido...
Amanhã fala comigo por favor.
Beijinho,
Bela.

Respondi-lhe com um testamento que basicamente diz "vai à merda", mas estou um bocado arrependida...
Ela é minha amiga e não quero magoá-la, mas basicamente é isso que estou a fazer...

Cheguei à escola e ninguém me falou, por isso, tirei a tesoura da mochila e dirigi-me à casa de banho.
Sinto o coração pesado, com necessidade de aliviar. Não sinto nada nem ninguém a puxar-me para cima, só me sinto cair, cair e cair.
Abro a tesoura, encosto-a ao meu pulso e pressiono.
Um fio de sangue escorre e vai parar ao chão.

The only thing worse than losing someone, is losing yourself.

Quando o Amor Não ChegaOpowieści tętniące życiem. Odkryj je teraz