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O cabelo dele está lindo.
Essa foi a primeira coisa que reparei quando ele entrou, e ainda não consigo parar de admirar enquanto ele fala sobre.... sobre o que ele está falando?

Queria poder tocar. Deixar meus dedos correrem entre as ondulações castanhas. Por que eu tive que me apaixonar logo por Peter Parker? Logo pelo meu melhor amigo?

Eu jamais colocaria nossa amizade em risco, não posso correr o risco de tentar me declarar, mas não consigo me afastar, assim parece que meus sentimentos só aumentam, se expandindo até não caberem mais no meu corpo, me sufocando.

-O que você acha? - ele pergunta com as sobrancelhas franzidas, parece ser sério, não acredito que eu não dei atenção, eu sou péssimo...

-Desculpa Pete, eu.... - meu pedido de desculpas é interrompido por gritos do outro lado da rua, estão assaltando o mercadinho da esquina

-Ham... Oh Meu Deus!- ele dramatiza - Fica aqui, eu vou ligar pra polícia!

Não me incomodo em me mover, suspirando, e mantendo meu olhar fixo no garoto que agora corre pra fora da nossa padaria, em direção ao beco.

Em qualquer outro dia isso teria me incomodado, como já aconteceu várias vezes antes. Já tem alguns meses que ele está sempre sumindo, se atrasando e me deixando de lado.

No início eu me culpei, pensei que talvez tivesse descobrido sobre meus sentimentos e estava desconfortável.

Então eu culpei Miles Morales.
Eu vi os dois juntos várias vezes, em diferente horários e em diferentes partes da cidade. Quase sempre rindo, e com aparência de cansaço e cabelos bagunçados.

Claro que eu senti ciúmes.
Certa vez tentei me aproximar dos dois e os cumprimentei, perguntei o que estavam fazendo e minha resposta foi algo como:

"Eh, bem, nós estamos... sabe, os dois, ham.... a gente só tava, você sabe."

Murmurado por um Miles nervoso, que corava ao som das risadas de meu Peter, que alegou estarem fazendo um trabalho da escola.

'Trabalho da escola, claro.

Quando penso nisso agora, me sinto realmente idiota por não ter percebido antes. Talvez se eu tivesse olhado mais o mundo a minha volta em vez de focar apenas nos meus sentimentos...

Lembro de ter sentido meu coração disparar quando o menino-aranha me segurou em seus braços, sua voz familiar, seu cheiro familiar, até mesmo seu toque. Eu odiei ele por me fazer sentir dessa forma, tonto e feliz, como só Peter me faz.

Nem por um momento eu me permiti aceitar que gostava dele, nem por um momento eu comparei eles dois. Já estava acostumado a achar um pouco do meu melhor amigo em tudo.

E agora eu o vejo saindo do beco, o Homem-Aranha, e eu sei que só uma pessoa faz minha pulsação acelerar assim, e eu sei que é ele.

Me levanto e corro para o meio da multidão, sendo puxado pela cintura antes mesmo de definir em que direção estava correndo.
Sinto meu corpo ser retirado do chão e reprimo um sorriso.

-Sabe, normalmente as pessoas correm pra longe do perigo!- o "amigo da vizinhança" implica

-Eu precisava falar com você, é importante. Me encontra no telhado da Oscorp as 20h.

Ele concorda com a cabeça, me deixando a uma distância segura do assalto e voltando para salvar o dia.

Sorrio comigo mesmo, sentindo algo que tanto pode ser orgulho quanto esperança. Ele tem uma lista de prioridades bem estranha, parando tudo pra me salvar.

[20:03
[Oscorp Industries - a empresa de Norman Osborn

Paro com as mãos apoiadas no muro que contorna o terraço. Eu tenho plena certeza do que estou fazendo, eu pensei muito sobre isso. Não posso voltar atrás agora.

Ouço um baque atrás de mim e espero até que os passos que o sucederam se silenciem, com o super-herói parando ao meu lado.

-E não é que você veio mesmo!? - impliquei, me virando de frente pra ele

-Você chamou, eu vim.- respondeu simples, se virando de frente pra mim

-Então você apareceria pra qualquer pessoa que te chamasse? Você não tem coisas mais importantes para fazer? Como, sei lá, salvar o dia? Ou talvez uma vida social por fora da máscara, alguém especial, um melhor amigo?

-Você não me chamou aqui pra falar da minha vida social, foi? Disse que era algo importante.

-Acho que eu sou importante, para você. É você que vive dizendo que podiamos ser amigos, e eu notei que sempre está por perto quando eu preciso, e sempre me salva antes mesmo de ver as outras pessoas.

-Do que você está falando?- ele ri nervoso- Eu só faço o meu trabalho.

-Eu acho que é mais que isso, eu acho que você gosta de mim. - sorrio provocativo, como planejado

Tentar a sorte com Peter Parker está fora de questão, mas com o Homem-Aranha.... não tem problema quando ele me rejeitar, eu ainda terei companhia pro Café amanhã, eu tenho minha resposta sem estragar nossa amizade

-E por que você acha isso? - ele pergunta com a voz baixa, em um tom duro, e eu me aproximo, apoiando as mãos em seu pescoço, segurando a barra de sua máscara

-Confia em mim. - peço, quando ele ameaça me interromper, segurando meu pulso direito - Eu não preciso tirar sua máscara para te conhecer.

Depois de um momento ele parece relaxar, e me solta. Sem nenhum de nós dois dizer mais nada, eu lentamente subo o tecido por seu pescoço e queixo, dobrando-o em cima de seus olhos, bloqueado sua visão, descobrindo seus lábios.

-Assim eu não consigo te ver.- ele diz assustado, tentando soar irônico, merda, isso é tão Pete de ser

-E não precisa... - sussurro

Respiro fundo andes de me aproximar mais, aproveitando cada segundo e cada centímetro, sem saber quando vou ser parado. Mas não sou.

Então o beijo, desesperado de mais para esperar, mas assustado de mais para tentar algo além de um beijo lento.

Sinto um arrepio percorrer minha espinha quando ele corresponde, colocando sua mão em minha cintura.

Estamos nos beijando.
Não consigo evitar sorrir, interrompendo o que me faz feliz com minha própria felicidade.

-Eu sabia...- provoco- Você gosta mesmo de mim.

-Ham... - ele se afasta, andando pra trás, tropeçando nos próprios pasos e palavras - Confuso. Eu estou. Achei que você me odiava.

-Certo, eu me rendo.- levanto as mãos, tentando parecer casual, enquanto sinto a insegurança me consumindo por dentro- Eu suponho que, talvez, eu tenha demonstrado os sentimentos errados.

-Talvez? - ele ri, e parece pronto para dizer alguma coisa quando sirenes começam a tocar

Ah não, Merda!
Mordo meus lábios com raiva.

Ele olha pra cidade e então olha de volta pra mim, e de volta pra cidade, indicando que tem que ir com um gesto de cabeça.
E vai, sem dizer mais nada, simplesmente corre e pula do prédio mais alto da cidade, se pendurando em suas teias, indo na direção do problema e pra longe de mim.

..........

Do You Wanna Know?Onde as histórias ganham vida. Descobre agora