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Até o fim do ensino fundamental eu nunca tive muito do que reclamar da minha vida, nunca liguei para esse lance de ter muitos amigos ou de ser a popular do colégio. Sempre me contentei com as minhas ótimas notas e os meus prêmios pelos melhores projetos e trabalhos. Darcie, minha irmã, tem muitos amigos, ela é aquele típico clichê adolescente. E eu, bom, eu gosto de ser invisível e tenho Landon, fazemos uma bela dupla.

Ultimamente meu relacionamento com Darcie tem mudado e eu sinto falta de como éramos quando criança. Eu sentia como se tivéssemos uma ligação além daquela de irmã gêmeas, sempre acreditei que fôssemos almas gêmeas.

Darcie e eu éramos grudadas, ela sempre me defendeu no colégio e sempre cuidou de mim. Com a chegada da nossa adolescência isso mudou, Darcie começou a andar com uma galera diferente, a ter vários namorados e por fim a se afastar de mim como nunca pensei que se afastaria. Em casa até parece que somos como éramos, mas da porta pra fora eu sou completamente invisível para ela, principalmente no colégio. Lá não sou a Tessa, sou simplesmente a irmã de Darcie ou como alguns dizem: a cópia desengonçada.

Mesmo estando afastadas ainda admiro a confiança que ela tem em si mesma, isso a torna a menina mais linda que eu conheço e por mais que tenhamos o mesmo rosto não consigo ter pelo menos um terço de toda sua autoestima.

— Anda Tessa, sai desse chuveiro. Não tô afim de me atrasar.

Hoje é segunda feira e tudo começa outra vez, eu vou para escola, vejo os mesmos babacas de sempre, almoço com Landon e depois vamos para a biblioteca. Não é um dos melhores programas, mas é a minha melhor rotina.

Desligo o chuveiro e me enrolo na toalha, tenho certeza de que quando abrir a porta vou dar de cara com uma Darcie de cara feia e cabelos despenteados.

— Argh! Até que enfim, sai, sai. – Ela diz enquanto me empurra.

Eu sabia.

Visto uma camiseta branca e meu vestido jeans por cima, é uma ótima combinação e me sinto confortável, mais confortável ainda quando coloco minhas sapatilhas de pano e como sempre prendo meu cabelo em um rabo de cavalo. Fico contente por ele não estar rebelde como normalmente fica.

— Bom dia para as garotinhas mais lindas de toda a cidade. - Diz meu pai.

Darcie e eu sentamos a mesa para tomar café da manhã enquanto minha mãe termina de nos servir.

— Vai precisar de uma carona?

Darcie é a única de nós que tem carteira de motorista e um carro. Meu pai deu a ela quando fizemos 16 anos, eu preferi uma bicicleta e uma coleção de livros clássicos.

— Não, vou de bicicleta. Vou passar no Landon para que a gente vá juntos.

— Ele é o maior otário, vocês deveriam namorar.

— Darcie. - Minha mãe repreende quando entra na sala de jantar com as panquecas.

— Obrigada mamãe.

Darcie bufa e sai batendo os pés segurando sua bolsa, me despeço dos meus pais e saio logo atrás. Hoje vai ser um longo dia.

●●●

— Como está as coisas entre você e Darcie?

— O de sempre. - Dou uma risadinha, mas pelo o que ele me conhece sabe que não estou sendo sincera. - Às vezes ela me trata bem, em casa, claro. Mas aqui, ela finge que não me conhece.

— Isso vai passar, eu garanto. Bom, tenho que correr para a aula de história. Se cuida.

Landon beija a minha cabeça e sai correndo para o outro prédio. Volto a ler o livro em que eu estava segurando. Não é nenhum clássico da literatura, mas até que Nicholas Sparks não é tão ruim assim, um romance daqueles que te fazem se apaixonar junto com os protagonistas, mas em mim tem o efeito contrário, me fazem pensar: quem em sã consciência se apaixona em duas semanas?

Perdida em meus pensamentos dou de frente com uma parede preta e dura, ai minha cabeça.

— Ai minha cabeça.

Quando olho para cima não é uma parede. Um garoto de cabelos castanhos mel e olhos verdes, branco igual papel com algumas tatuagens pretas em destaque em seu braço amostra. Ele é meio intrigante e chama bem a atenção. E tem um cheiro bom. Como nunca o vi por aqui antes?

- De... desculpe.

Estou hipnotizada. Ele bufa e me afasta pelos ombros.

— Eu não acabei de falar com você? Como trocou a porra da roupa tão rápido, Darcie?

Darcie? Ah, claro.

— Eu não...

Sua mão grande acaricia meu rosto, ele está vidrado na pinta em minha bochecha. Seus lábios entreabertos chamam minha atenção, estou tão imersa em sua mão passeando pelo meu rosto que não vejo quando sua outra mão segura meu colar com a primeira letra do meu nome.

— T de que?

— Tessa. – É tudo o que sai dos meus lábios.

Ele suspira, parece aliviado.

— Você não é ela.

Minha ficha cai, bato em sua mão para afasta-lá.

— Claro que não!

— Graças a deus!

Ele diz e vai embora, apenas sai. Fico olhando para as suas costas e percebo o quanto ele é alto. Ele é bem atraente, mas não é nada educado.

Ele me faz lembrar de Darcie porque ela também se tornou uma grosseirona de primeira. Saudades eu tenho da Darcie de quando tínhamos 7 anos. Era divertido quando ela me acordava de madrugada para que gente pudesse fazer formas com as mãos na frente do abajur ou apenas para que a gente pudesse observar as estrelas.

Depois da aula estou na frente do meu armário esperando por Landon que está demorando mais que o normal.

— O que você está lendo, gata?

Essa voz grossa reverbra pelo meu corpo e um arrepio toma conta de mim, a mão do gasparzinho tá sobre as páginas do meu livro. Ele nem me conhece e está me irritando.

— Meu nome é Tessa. - Seguro sua mão e a afasto do meu livro.

— Eu sei, Theresa. Mas então, o que está lendo?

— Primeiro, meu nome é Tes-sa. - Separo as sílabas para que ele possa me entender com mais clareza. - E segundo, creio que não é muito da sua conta o que estou lendo.

Antes que ele possa abrir a boca para falar algo Landon chega para me livrar. Sem falar nada ele apenas me puxa pelo braço e saímos juntos em direção a biblioteca.

Mirrors Of The SoulWhere stories live. Discover now