A Fada

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E assim, o Coelhinho foi colocado num saco com os velhos livros de gravuras e muito lixo, e levado até o final do jardim, atrás da casa de aves.

Aquele era um ótimo lugar para fazer uma fogueira, mas o jardineiro estava ocupado demais naquele momento para fazer isso. Ele tinha que cavar as batatas e colher as ervilhas, mas na manhã seguinte ele prometeu chegar bem cedo e queimar tudo.

Naquela noite o Menino dormiu num quarto diferente, e ele tinha um coelho novo para dormir com ele. Era um coelho esplêndido, todo de pelúcia branca com olhos de vidro genuínos, mas o Menino estava excitado demais para prestar muita atenção.

Porque amanhã ele ia à praia, e isso em si era uma coisa tão maravilhosa que ele não podia pensar em mais nada.

E enquanto o Menino dormia, o Coelhinho estava deitado entre os livros de ilustrações no canto atrás da casa de aves, e ele se sentiu muito solitário.

Ele estava tremendo um pouco, pois sempre esteve acostumado a dormir numa cama quente e agradável, e agora sua pele tinha ficado tão fina e gasta dos abraços que não o protegia mais.

Por perto ele podia ver as moitas de caules de framboesa, em cujas sombras ele tinha brincado com o Menino em manhãs passadas. Ele pensou naquelas horas ensolaradas no jardim - como eles eram felizes - e ele ficou muito triste.

Ele parecia vê-las todas passando na sua frente, cada uma mais bonita do que a outra, o canteiro de flores, as tardes quietas no bosque quando ele deitava entre as samambaias e as formiguinhas corriam por cima de suas patas; o dia maravilhoso no qual pela primeira vez ele soube que era Real.

Ele pensou no Cavalo de Pele, tão sábio e gentil, e tudo que ele tinha lhe contado.

E uma lágrima, uma lágrima real escorreu pelo seu nariz surrado de veludo e caiu no chão. E então uma coisa maravilhosa aconteceu. Pois onde a lágrima tinha caído cresceu uma flor misteriosa, que não parecia nada com qualquer outra que crescia no jardim.

Ela era tão bonita que o Coelhinho se esqueceu de chorar, e apenas sentou lá olhando-a. Então de repente, o botão de flor abriu, e para fora saiu a fada mais bonita de todo o mundo. Ela chegou perto do Coelhinho e o pegou em seus braços e o beijou em seu nariz de pelúcia que estava todo úmido de chorar.

"Coelhinho, você não sabe quem sou eu?"

O Coelho olhou para ela, e parecia que ele a tinha visto antes, mas não podia pensar lembrar onde.

"Eu sou a Fada Mágica do quarto das crianças. Eu cuido de todos os brinquedos que as crianças amaram. Quando eles estão velhos e gastos, e as crianças não precisam mais deles, então eu venho e os levo embora e os torno Reais."

"Eu não era Real antes?"

"Você era Real para o Menino, porque ele o amava. Agora você será Real para todo mundo."

The Velveteen Rabbit - O coelho de veludoWhere stories live. Discover now