- Sou Wayne. – ele disse e virou para o outro rapaz ao seu lado. – E esse é Kyle.

- O reitor falou bastante de você. – Kyle se pronunciou e Louis notou a cicatriz no queixo dele, contrastando com os cabelos tão loiros que parecia branco na luz. – Das suas festas e dos projetos.

Louis deixou o violão de lado para fita-los melhor. Seus ombros encolheram.

- As festas não são minhas. Temos um comitê e, na verdade, envolve muitas pessoas. Muitas mesmo, alunos e administração, inclusive. – as sobrancelhas claras de Kyle se ergueram. – Mas fico feliz que estamos tendo esse alcance, os projetos são incríveis demais pra ficarem limitados no campus da UAL. Os alunos merecem esse reconhecimento.

Wayne deu um passo pra frente.

- E como funciona lá?

- Funciona o que? – Louis franziu o cenho.

- As aulas. Quer dizer, aqui nós mal temos tempo pra praticar e curtir nos ensaios e... – Wayne ponderou sobre suas próximas palavras. – Fico imaginando o que vocês fazem o dia todo estudando música. Devem afinar violões de segunda a sexta.

Louis engoliu os trinta e sete palavrões que ameaçaram subir sua garganta; as risadas de Kyle só piorando sua irritação.

- Na verdade, Wayne – piscando várias vezes para manter a voz baixa, Louis deu um passo à frente. – Nós estudamos até de sábado lá na UAL. Estudamos teoria, história, arranjos, elaboramos partituras, aprendemos harmonias e, como se não bastasse, estruturamos apresentações completas, desde a coreografia até a iluminação do palco. Não apenas curtimos como disse, diferente de vocês, nós enxergamos a música como profissão, verdadeiro ganha-pão diário, e não simplesmente um hobbie pra desestressar da correria da semana. A música é nossa correria da semana. E tudo bem, de verdade, ter a música como passatempo e não carreira, só não desmereça o trabalho de quem rala muito para receber pouco e ainda o faz por amor. – alguns outros alunos da UM já começaram a observar a conversa com curiosidade e, virando-se para eles, Louis prosseguiu, a voz levemente irritadiça. – Quando os reitores das duas unis decidiram fazer essa emersão, eles pensaram na troca cultural que os alunos poderiam fazer e que isso agregaria muito à nossa competência acadêmica e pessoal, eu sei porque estava lá, e mesmo tendo duas composições completamente diferentes, a UAL e a UM têm muito em comum. Ou vão me dizer que separam um tempo da vida de vocês pra virem aqui ensaiar só pelo ponto extra? Não funciona assim com música, com arte, eu sei que não. É pelo sentimento que vem junto com o instrumento, é aquela sensação de unidade e liberdade ao mesmo tempo, a harmonia que vem de fontes distintas e que sempre atiça o coração. Pensem nisso, nessa sensação, da próxima vez que julgarem quem faz carreira na música.

Um silêncio tomou a sala antes de uma garota com uma grossa trança cor-de-rosa se pronunciar.

- É fácil pra vocês falarem. Muitos de nós aqui não tiveram essa "liberdade" que vocês tiveram quando escolheram o curso. – o emaranhado de sentimentos contido nas aspas que a garota gesticulou no ar fez a irritação de Louis diminuir. – Meus pais nunca me deixariam prestar Música ao invés de Economia. Esse grupo que temos aqui é tudo que me resta.

Alguns alunos da UM abaixaram as cabeças, o conselheiro Smith observando a cena estático. Louis abriu a boca para responder mas Anne, sua colega de sala na UAL, foi mais rápida.

- Nós entendemos. Entendemos de verdade. – Anne disse, a voz amena e os olhos diretamente focados na garota de trança rosa. – Às vezes estamos tão emersos na bolha de arte da UAL que esquecemos que o mundo fora dela raramente a enxerga como nós enxergamos. São dois lados da mesma moeda, quem faz arte para tentar viver e quem vive para tentar fazer arte, e discutir quem está certo ou errado só vai nos segregar ainda mais.

once upon a plug {l.s}Where stories live. Discover now