Prefácio

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     Os vizinhos não falavam de outra coisa na rua há pelo menos uma semana...

     _ O Filho do seu Gouveia vai voltar a morar com a família. Falou a vizinha da frente, D. Joyce, pra minha mãe naquele final de tarde de domingo.

     Nós tínhamos ido até a casa da irmã do meu pai, Tia Lídia, por conta de um almoço em família, uma vez que meu priminho Davi, que nascera há pouco mais de um mês, acabara de se tornar afilhado dos meus pais. Mamãe sorriu e disse:

     _ A Tereza deve estar nas nuvens, né Joyce?

     _ Chorou enquanto me dizia a novidade. Dois anos fora, minha amiga. Ser Militar é tudo de bom, ficar longe de casa deve ser a pior coisa do mundo.

     As duas ainda ficaram no portão por quase meia hora. Eu entrei e fui guardar os doces e salgadinhos que Tia Lídia havia separado pra gente. Enquanto andava pro quarto que dividia com meu irmão Dan e Gil, não parei de pensar na notícia que acabara de saber no pé do muro de casa.

     O Seu Gouveia eu já conhecia. Desde que ele abrira o pequeno mercantil há mais ou menos uns 08 meses no bairro, que era comum vê-lo por lá. O lugar era até grande e bem sortido, e quase sempre eu e os manos íamos lá a pedido de nossa mãe. 

     Outra surpresa foi saber que ele havia se tornado nosso vizinho há uns dois meses. O prédio ao lado vendeu os dois apartamentos do terceiro e último andar, e ele comprara os dois e depois da reforma mudou. O pobre homem e sua família passaram a ser o assunto da rua por um bom tempo.

     _ Como será você, Soldado? Meu erro foi falar em voz alta. Dan, o numero dois vinha entrando no quarto e perguntou:

     _ Tá perguntando de quem, JB? E ele já foi entrando, subindo na beliche e jogando os tênis e a camiseta no chão.

     _ Trabalho final de Redação, mano. Sabe aquele lance do Tumulo do Soldado Desconhecido? A Professora Bya quer que a gente dê características, nome e invente um monte de coisa pro trabalho final sobre a vida desse tal Soldado, por isso que tava aqui falando alto.

     _ A Bya é show, cara. Relaxa. Tu escreve bem, ela até falou de ti na nossa sala.

     _ Que intimidade é essa com a D. Bya, Dan?

     _ Nada a ver, João Bosco.

     _ JB, cara. Tu sabe que eu não gosto desse nome... JB, beleza?

     _ Que seja. Tu já vai tomar banho, ou eu posso ir primeiro?

     _ Pode ir lá. Vai sair com a turma?

     _ O de sempre. Ficar na praça, dar umas paqueradas, sorveteria e depois casa.

     O garoto pulou da cama, se despiu rapidinho, se enrolou na toalha que estava mo cabide e sumiu porta afora.

     _ Descobrir como você é Soldado Desconhecido, vai ser questão de tempo né mesmo? Pelo menos foi o quer disse a D. Joyce pra mãe.  

O Amor Morava Ao Lado... E Eu Nem Sabia  -  Romance GayWhere stories live. Discover now