Dois: Um inferno na minha cabeça

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Naquela manhã quando o alarme tocou, Katya já estava acordada, ela mal havia conseguido dormir. Caminhou até o espelho, parecia cansada, mas estava nervosa, sentia que seu coração ia sair pela boca. Pensou em dizer para sua mãe que estava gripada para não precisar ir a escola, ou simplesmente matar aula, fugir para o campinho que tinha lá perto de ficar lá até o horário da saída. Mas ela sabia que uma hora ou outra teria que enfrentar isso, então, ela desceu para cozinha, onde a mesa do café estava posta. Seus pais já tinham ido trabalhar, apenas sua tia Anya estava na sala. Ela era mais nova que sua mãe em 2 anos, e tinha vindo para os Estados Unidos com seus pais, nunca se casou, algo que ninguém nunca entendeu direito pois ela era linda, cabelos loiros ondulados e um sorriso perfeito, oque era praticamente genética da família,e sempre tomou conta da Katya e seus irmãos, pois seus pais estavam sempre trabalhando, oque fez criar um certo vínculo de confiança, Katya sentia que podia contar tudo para ela. Menos isso.
"Que carinha é essa pequena? Dormiu mal?"
" Ahm, sim tia."
"Não vai comer nada?" a tia, dizia em um tom quase preocupado enquanto fazia uma tigela de cereal e leite para irmazinha de Katya.
"Ah, acho que não..."
"Se desmaiar no meio da escola não vai ser por falta de aviso" disso, com um risinho de deboche, porém a cara de Katya continuava baixa.
"Foi uma piada querida..."
"Desculpe tia, eu não to no meu melhor humor hoje"
"Você sabe que se quiser conversar..."
"E que-" Anya logo levantou as sobrancelhas.
"E que eu menti sobre algo, pra alguém que eu gosto, mas não foi por mal, é que eu senti que ela não deveria saber, sabe!? Só que agora eu vou ter que contar de qualquer jeito e eu to com muito medo da reação dela"
"Querida, a verdade é sempre o melhor caminho, acredite em mim, independente da reação da pessoa, você vai se sentir melhor quando contar."
Katya parou para pensar por uns segundos.
"Acho que você tem razão..."
"Eu sempre tenho" disso Anya com um sorriso. "Agora come pelo menos um pãozinho pelo amor de Deus."
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Ao chegar na escola, Trixie foi direto até o armário de Katya. A menina não havia dormido pensando no porquê de sua melhor amiga, alguem a quem ela confiava tudo, não havia confiado nela para contar algo tão importante.
Katya estava encostada no armário, pois já sabia que seria o primeiro lugar onde Trixie iria procura-la.
"Oi" disse Trixie no tom mais seco possível.
"Não precisa ficar assim, eu vou te contar tudo. Pode matar o primeiro tempo?"
Trixie concordou com a cabeça, e seguiu Katya até o auditório, na parte dos camarins, que é aonde as duas costumavam a matar aula, pois nunca ia ninguém lá já que o clube de teatro já havia acabado por falta de verbas a tempos, então a maioria dos alunos novos nem sabia daquele lugar.
Trixie acendeu a luz do espelho da pentiadeira apenas, e as duas meninas se sentaram no velho sofá enfrente ao espelho. Com os joelhos junto ao corpo, Katya estava obviamente na defensiva. Trixie tentava na sua mente escolher as melhores palavras possíveis para iniciar aquela conversa, e falhou.
"Então... você não é mais virgem, quando isso aconteceu?"
"Ano passado"
"Ah" Trixie gaguejou;
"Então, você ta me escondendo isso a quase um ano, legal."
"Trixie não é tão simples-"
"- eu só quero saber por que você não me contou. Oque de tão difícil há nisso? Eu pensei que a gente contava tudo uma pra outra"
"É que desde aquele dia tem sido um inferno na minha cabeça"
"Você se sente culpada? Por que!?"
"Não, sim, mas ou menos..."
"Por favor me conta, talvez eu possa te ajudar"
Katya riu, "Você não pode me ajudar..."
Um silêncio se instaurou por alguns segundos, até ser quebrado por Katya.
"Eu conto, mas você promete que não vai me odiar?"
"Eu jamais te odiaria"
"Eu não contei porque... foi com uma gorota. Trixie, eu acho que... eu sou lesbica."
Naquele momento Trixie franziu o celho, ela não sabia o que sentir, haviam muitos sentimentos misturados dentro dela, ela ficou em silencio até olhar para o rosto de Katya, que estava baixo, e uma lágrima escorria.
"Ei.." disse Trixie no tom mais doce possível enquanto delicadamente limpava a lágrima no rosto quente de Katya com o polegar, Katya por sua vez, começou a chorar mais, e foi envolvida num abraço por Trixie. E assim as duas ficaram por alguns minutos, Trixie passava delicadamente os dedos pelas ondas nos cabelos de Katya como um gesto carinhoso, para que ela se acalmasse.
No fundo, quem realmente estava em desespero era Trixie. Muitas memória e sentimentos em sua cabeça começaram a se resignificar. Ela não queria passar isso para Katya naquele momento, mas aquilo mudava tudo.

Crescer É Perigoso [Em Hiatus/Revisão]Where stories live. Discover now