— Por que... vocês decidiram vir para cá?

— Meu pai queria "voltar as origens" como ele mesmo disse. A família dele é daqui, então... Foi isso. Eu vim atrás, não conseguiria ficar longe dele ou da minha irmã. Pelo menos não foi difícil arranjar emprego por aqui.

— E com o que você trabalha?

— Sou fisioterapeuta, trabalho na área de ortopedia e traumatologia.

Segurei mentalmente o queixo para não abrir a boca. Eu sabia que aquilo seria muito arriscado para mim, mas a cada coisa que ele dizia fazia a barrinha da paixão subir cada vez mais e eu não conseguia fazer nada para impedir.

Ele continuou na área da saúde...

— Uau... Isso... combina com você. — Eu já conseguia imaginá-lo naquelas roupas azuis, todo paciente e cuidadoso com as pessoas...

— Obrigado, muita gente diz isso.

Nos olhamos uns segundos em silêncio. Pigarreei. — Então... você só quer ajuda com a cor da parede?

— Se não for abusar demais, eu também queria ajuda para escolher um sofá.

— Claro, tudo bem. Você... quer ir agora?

— Hm... Só se você não estiver ocupada demais...

— Não, tudo bem. Podemos ir sim. Eu vou me trocar. — Voltei para o meu apartamento e corri para o quarto, começando a ficar ansiosa. Peguei uma roupa decente, arrumei o cabelo e passei perfume.

Me olhei no espelho e suspirei. Tudo bem, é só uma saída para escolher tinta e sofá. Não se iluda, não se iluda.

Não demoramos muito para achar uma loja de materiais de construção. Mostrei a marca da tinta que eu tinha usado no meu apartamento, e Natanael escolheu uma mais escura, também aproveitando para comprar uma forminha de tinta e dois rolos. Bem ao lado, havia uma loja de móveis e fomos dar uma olhada nos sofás. Natanael não gostou de nenhum e falou que compraria online, então voltamos para o apartamento, pois ele estava ansioso para começar a pintar.

Voltei para minha casa apenas para colocar roupas velhas que poderiam ser manchadas. Antes de sair, percebi que estava com fome, então peguei um saco grande de batatas fritas e duas latas de refrigerante, e também vários cadernos de jornais. Quando voltei, vi Natanael testando a tinta na parede com um dos rolos.

— Trouxe um lanchinho. — Deixei as batatas e os refrigerantes em um dos pufes e comecei a espalhar as folhas dos jornais abertas ao longo do chão e parede.

— Acho que ganhei na loteria — comentou Natanael, abrindo seu refrigerante e dando um gole.

— Como assim?

— Eu mal cheguei e minha vizinha já está me ajudando. Se isso não é sorte, não sei o que é.

Fiquei envergonhada por um instante, e eu me toquei de que não podia ficar agindo daquele jeito. Eu precisava voltar a ser a Heloise de sempre.

— É, foi sorte sua ter uma vizinha tão boazinha quanto eu. — Consegui bolar uma gracinha e ele riu. Terminei de colocar os jornais por toda a extensão da sala e enchi a bandejinha com a tinta, começando a pintar a parede do quarto. Logo, Natanael também começou, pintando a parede das janelas que já estavam protegidas com fita adesiva.

— Acabei nem perguntando sobre o que você achou da Priya.

— Eu a achei incrível. Nem precisei falar muito e ela descobriu diversas coisas.

Ele riu. — É... Se você não gosta de ter sua privacidade "invadida", é melhor nem dar trela para ela.

Eu queria muito perguntar se ele sabe de todas as coisas que ela descobriu, mas morro de vergonha dele dizer que sim, e aí onde vou enfiar minha cara?

À Procura de Adeline LegrandWhere stories live. Discover now