Poesia 37

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ASFÓDELOS


Barcos passam por baixo da ponte

A criança curiosa olha e aponta

A mãe a repreende com o olhar

É feio apontar

Era o cortejo das almas que passava.


A cidade estava toda de branco

Nenhuma respiração se exaltava

O silencio era a lei

A norma conhecia-se por intuição e por costume.


O cortejo das almas

O momento mais solene

Nem o mal se levantava contra o bem

Nem o condenado jurava sua inocência.


Ergue-se a voz do vento

Sobressaem as cores da noite

Sabiam em seu cerne

Que o silêncio possuía o brado mais alto.


E quando a monotonia a tomava

A alma trocava a trilha sonora

Dentre arpejos de um instrumento doce

Cada segundo a navegar.


Do mais belo céu estrelado a alma se lembrava

E a fé no amanhã ela se esquecia

O cortejo ainda passava

E não havia saída de emergência.


Então, um movimento inesperado do destino

Por sobre o barco, a ponte

Sobre a ponte, a multidão e a criança curiosa

A ponte desaba num instante.


A multidão se afoga e não há gritos

Se ouvir, será o vento

As almas do barco atingido se dissipam pelo ar

O vazio preenche o peito de homens e anjos.


Menção do desespero nas expressões

Só que emoções não duram

Espaço de castigo

Abandono das almas.


Os barcos seguem para os Campos Elíseos.

Os versos e reversos da vidaWhere stories live. Discover now