Capítulo 10 - Henrique

78 16 1
                                    

- Você tem certeza que é assim? – Lisandra pergunta insegura enquanto junto as últimas peças do berço - Está bem, bem, diferente.

Olho em sua direção e a vejo comparando meu trabalho com a imagem das instruções.

- Deixa eu ver – peço e ela me entrega para analisá-lo. Parecia bem mais simples quando vi – É só um prego.

- Queria que um prego desse um jeito na minha vida assim – ela zomba.

- Sabe fazer melhor? – provoco esticando o martelo a ela.

- Pior que isso não pode ficar – diz convencida e pega o martelo da minha mão.

No entanto podia, e para não perdemos mais tempo e também para não fazê-la se esforçar muito passamos a trabalhar em conjunto, as instruções faziam parecer ser fácil mas era tudo enganação.

- Por que não um berço montado ou articulado? – ela resmunga enquanto encaixa as grades brancas nos lugares certos.

- É mais legal assim – ou ao menos deveria.

Quero ter uma experiência diferente dessa vez, participar de todas as fases, evitar comparações, não quero ter que lembrar do meu filho sabendo que ele não está mas aqui, que ele sequer teve chance de viver nesse mudo. Ou que Ellie não está mais aqui.

Olho de soslaio para Lisandra que ainda resmunga sobre o berço, elas são tão diferentes, a começar pelo fator mais gritante entre ambas, Ellie queria o filho, Lisandra parece não ver a hora de se livrar dele. A barriga dela já está começando a aparecer, não há mais nenhuma dúvida sobre sua gravidez apesar de ela estar sempre usado camisas folgadas, parece querer esconder até mesmo dela que isso é real, apenas em dias quentes como esse é que ela coloca uma blusa mais leve e eu consigo perceber a silhueta diferente.

Estamos morando juntos há quase dois meses e nesse tempo ela tem se mostrado uma boa amiga e uma boa pessoa, cuidadosa e delicada comigo, tem me dado forças quando preciso, quando há dias em que a saudade das pessoas que eu mais amava bate forte, ela me faz sorrir, tem sido mais fácil suportar com ela por perto, ela não me julga, apenas me ouve e me conforta, não insiste em uma terapia como minha família inteira já teria me obrigado a ir, o máximo que ela faz e que eu não posso ficar chateado é passar o boletim da semana a minha mãe, porque ela o faz sem nem perceber, dona Paula sabe ser esperta e eu fico feliz de ao menos minha mãe estar cem por cento nisso comigo, meus irmãos ainda acham uma loucura e meu pai acha que posso tomar minhas próprias decisões sozinho e mesmo não aprovando não se mete. Estou contando com a magia que os bebês tem de conquistar todos a sua volta para que eles percebam que estava certo, que essa criança é tudo que eu preciso.

- Pronto! – ela solta quando termina e eu acaba rindo.

Me afasto já imaginando completamente arrumado, com as colchas, os lençóis, os brinquedos...

- Viu? Eu disse que estava tudo sob controle – me gabo e dou duas batidinhas na armação.

Ela abre a boca para concordar, mas então as peças começam a tremer e em um segundo tudo se desmonta e as peças são espalhadas pelo quarto.

Ela começa a gargalhar e eu a olho sério.

- Desculpe...desculpe mas...- ela tem outra crise de risos – A sua cara...

Reviro os olhos e acabo sorrindo também.

- E lá se vai um bebê – ela balança a cabeça e diz em tom debochado colocando a mão em meu ombro – Mas realmente, estava tudo sob controle.

- Foi o prego – digo entrando na onda e acabamos rindo outra vez.

- Sem dúvidas!

- Estou exausto – suspiro e me sento no chão

Mesmo que você me deixe - Série ConfiançaWhere stories live. Discover now