Capítulo 3 - Henrique

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Um som perturba minha mente ao longe incomodando um sono que eu não tinha há muito tempo. Determinado a ignorar e a voltar a dormir eu viro para lado sem muito esforço para não despertar. Mas é inútil. Assim como é inútil dizer para pobre senhora que mora ao lado para não perturbar minhas manhãs.

Abro os olhos encarando o despertador portátil marcando 7:30 em ponto, sempre pontual senhora Cuttler, sempre pontual.

Suspiro e me arrasto sem pressa até a porta enquanto me concentro para não arrancar o dedo da velha fora, ela parece estar em guerra com a campainha.

- Sim senhora Cuttler, a campainha está funcionando – abro a porta quando ela estava preste a aperta mais uma vez – E eu ouvi desde a primeira vez.

Ela abre um sorriso sonso.

- Eu sei!

Fecho os olhos e respiro fundo lembrando que é apenas uma velha senhora indefesa.

- Vejo que não está de bom humor Henri.

Talvez porque eu tivesse enfim conseguido dormir, mas aqui estamos nós.

- Tenho certeza que meu delicioso bolo de cenoura vai alegrar sua amanhã.

- Sim, muito obrigado – pego com cuidado de sua mão – Devolvo a bandeja amanhã.

- Ah, me deixe ao menos...- bato a porta sem esperar mais um segundo.

Deixo o bolo no balcão e o encaro analisando minha própria situação, já estou esperto o bastante para voltar a dormir e o cheiro do bolo atiça minha fome.

Me espreguiço e vou até o armário fazer um café. Corto uma fatia de bolo e sento na cadeira em frente ao balcão saboreando que o único barulho existente nesse apartamento é do café fervendo, e mesmo assim ele consegue ser silencioso. Antigamente me agoniava o silêncio, mas hoje é a única forma que eu consigo ouvir meus pensamentos, que eu consigo ordená-los. Fecho os olhos e respiro fundo, o lugar é silencioso mais minha mente parece ferver.

Vejo minha esposa se arrumando em nosso quarto, vejo ela correndo atrás do cachorro que roubou seu sapato e vejo ela brigando comigo enquanto faço nosso café por ter decido trazer um cachorro de rua para dentro de casa.

"Você precisa dar um jeito nele Henri" ela choraminga com as mãos na cintura e ao mesmo tempo o cão larga o sapato encharcado de baba ao pés dela se deitando e a olhando com os olhos pidão " Não adianta fazer essa cara, você é um vira lata incorrigível!"

Ele levanta a cabeça e a inclina me fazendo rir.

"Não seja má Ellie" a abraço por trás depositando um beijo em seu pescoço "Como você pode resistir a essa gracinha? Dê uma chance, sim?"

Continuo minha tortura de beijos até ela começar a rir e se virar para mim.

"Como eu não resisto a você?!"

Nos beijamos até o cachorro começar a latir.

"Deixe esse pulguento longe das minhas coisas!" e sai em direção ao quarto.

Me abaixo e acaricio a cabeça do cachorro.

"Você ouviu amigão, nada de comer os sapatos, mas podemos negociar algumas roupas"

"Henrique!" ela grita e acabo rindo.

Sirvo o café e volto a me sentar pegando mais uma fatia de bolo. Em silêncio, quase sepulcral, nunca tinha me incomodado com isso antes. Por que agora?

Meu celular apita e eu o pego sobre o balcão vendo o nome de Lisandra brilhar na tela.

"Você está vivo?"

Mesmo que você me deixe - Série ConfiançaWhere stories live. Discover now