— Ei!

Reviro os olhos e continuo andando. Pelo visto Arcen gosta de atenção, porque foi só eu passar por ele...

— Ei! Você realmente vai me deixar preso até seu cliente dar resposta?

Olho para trás. Ele está parado no mesmo lugar, me encarando, mas tem alguma coisa diferente na sua expressão. A arrogância de antes desapareceu, pelo menos por agora, e ele parece... Nervoso? Não, não é bem isso.

— Essa é a intenção — falo.

Arcen muda o peso do corpo de uma perna para a outra e respira fundo. É, pode não estar exatamente nervoso, mas é bem próximo disso.

— E você parou para pensar que isso pode complicar um pouco as coisas se eu precisar usar as instalações sanitárias?

Instalações sanitárias? O que...?

Ah. Não vou rir. Isso seria passar dos limites. Mas aaaah, eu não tinha pensado nisso. Ele precisa ir no banheiro e está com as mãos presas. Coitado. Não que seja muito difícil achar uma solução.

Aponto para o riacho. Ele olha na direção que apontei e se vira para mim de novo. Sério, é tão difícil assim de entender?

— Entre na água — falo.

Arcen me encara, de boca aberta. O que foi, queria que eu segurasse? Porque é óbvio que não vou abrir as algemas. Não sou louca. Ele já me provou que não posso confiar que vai ficar por perto - e eu não soltaria mesmo se ele tivesse jurado que não ia se afastar da nave.

— Só cuidado para não sair do perímetro — continuo. — Acho que não vai gostar se algum dos felinos aparecer...

Ele vira as costas para mim e para, olhando para o riacho. Ótimo. Como ele vai se virar não é da minha conta. Na pior das hipóteses sempre posso jogá-lo na câmara de descontaminação.

Paro na rampa de embarque e olho ao redor. Não queria voltar para dentro da nave. Vir para cá foi só um reflexo, a forma mais fácil de me afastar de Arcen. Mas ele vai voltar para reclamar de alguma coisa não importa onde eu esteja.

Meu tablet apita. Um aviso do sistema da nave, de que tenho uma tentativa de contato. Suspiro. Vou ter que entrar de qualquer forma, então. Os sistemas de segurança que tenho instalados nos computadores e controladores da nave são bem superiores ao que tenho no tablet, não vou correr o risco de abrir uma mensagem aqui.

Entro na cabine, ativo o filtro de privacidade e toco no monitor para ativar os sistemas secundários. Uma mensagem de Drek pisca na tela.

Tivemos complicações. Responda com sua localização, um associado de confiança vai repassar as informações e uma nova proposta para você. Vou entender se recusar.

Quando alguém diz "vou entender se recusar" nunca é um bom sinal. E se Drek está falando isso agora, não quero nem pensar no que essa nova proposta pode ser.

E tem mais uma linha na mensagem.

Meu contato é um drilliano. Repito: ele é de confiança e foi vetado pela força-tarefa.

Não que ter sido vetado pela força-tarefa - o grupo que está destruindo o tráfico de seres sencientes no Acordo, e que foi fundado e é controlado por uma terráquea - queira dizer alguma coisa agora. Na verdade, me diz que esse drilliano está acostumado a trair. Encaro a tela por mais um instante. Dar minha localização é loucura. O certo seria eu levar Arcen de volta, recolher a recompensa por capturar um foragido e devolver o adiantamento de Drek. Mas não acho que Drek me trairia agora. Ele se importa demais com Suelen, uma das terráqueas que ele mesmo treinou, e que foi quem me mandou para a nave dele. E, se eu pular fora agora...

A imagem das crianças naquele hospital ainda está clara demais na minha mente.

Aperto o botão que vai enviar minha localização.

Seu associado tem quatro horas, e então estou indo para outro lugar seguro.

Não que eu vá esperar quatro horas. Se isso for uma armadilha, vão aproveitar o tempo para se preparar o máximo possível. Então, três horas até sair daqui.

Droga. Espero que esse "associado" apareça mesmo e logo.

Fecho o sistema de mensagens ao mesmo tempo em que escuto passos dentro da nave.

— Eu só não consigo entender por que uma terráquea aceitaria esse trabalho — Arcen fala.

Desligo o filtro de privacidade e me viro para ele.

— Porque ninguém mais conseguiria uma extração sem problemas e eu não vou deixar crianças que não têm nada a ver com isso morrerem, se puder evitar.

Arcen fica quieto. Coloco a mão na pistola híbrida que está presa na minha perna, parecendo ser só um dos bolsos da minha calça.

— O que você disse? — Ele pergunta.

Isso não é bom. Mas...

— Que não vou deixar crianças morrerem.

Ele praticamente desaba na cadeira do passageiro. Continuo parada onde estou, enquanto ele encara o chão e balança a cabeça, murmurando alguma coisa depressa demais para o meu tradutor conseguir entender. E isso é um ótimo exemplo de por que eu não deveria ter aceitado esse trabalho. Por mais que eu tenha alguns pontos base que me permitem manipular Arcen, ele é um alvo que eu não consigo prever. Não sei como ele vai agir ou reagir, e isso nunca é bom.

Arcen levanta a cabeça e me encara.

— Os krijkare.

***

N.A.: pronto. Hora de sentar aqui no cantinho e pegar minha pipoca. Ah, sim, eu estou usando um programa pra escrever que tem um corretor HORRÍVEL. Então, desculpem se passar algum erro idiota kkkkkkk

Arcen (Filhos do Acordo 7) - DegustaçãoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora