Dois

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Sair de Vorha foi mais simples do que parecia, especialmente depois que os guardas já tinham se conformado que o prisioneiro escapou e com certeza não estava mais dentro do complexo, já que verificaram tudo vezes demais e nenhum dos sensores captou nada. Não que atravessar os corredores e passagens secundárias enquanto manipulava o sistema deles tenha sido fácil, mas não foi tão ruim quanto eu esperava. Sair de Vorha para minha nave foi mais simples ainda - posso ter me inspirado em um filme terráqueo meio velho e deixado minha nave pousada no casco da base, num ponto cego dos sensores externos. Agora, a nave que foi parada pelo Corpo Militar por se aproximar demais logo quando estávamos nos afastando, foi um bônus inesperado. Menos motivo para prestarem atenção em mim.

Em nós. Ugh.

Suspiro e ativo os escudos da minha nave. Ela é um dos modelos menores, para duas pessoas no máximo, então é mais fácil instalar os bloqueios que cobrem toda a nave. Nesse momento, desde que eu não abra nenhuma rede de comunicação, estou invisível para qualquer sensor.

Simples, rápido, sem imprevistos. Só espero que Drek resolva o que quer que queira com Te'vi Arcen logo e isso realmente valha a pena, porque uma operação dessas seria ótima para levantar minha reputação.

Não. Não mesmo. Não importa que boas intenções Drek tenha por trás disso, eu nunca vou admitir que fui a pessoa que tirou Te'vi Arcen da prisão. Ele merecia estar lá e merece continuar lá. Mas a decisão disso não é minha - não quando a sobrevivência de duas espécies depende do que ele sabe. Por mim, não me importaria muito se os drillianos fossem extintos. Nunca conheci nenhum deles que me fizesse mudar a opinião sobre a espécie. Mas os krijkare não têm nada a ver com isso.

Pense no dinheiro, Renata. Esse é o maior pagamento da minha vida, e com direito.

Puxo a imagem das câmeras traseiras para um dos monitores ao meu redor. Até agora, estava só usando os dados dos sensores - eles são mais confiáveis na hora de fazer manobras delicadas - mas já estamos longe o suficiente para eu poder relaxar. Arcen se inclina na cadeira de passageiro assim que a imagem aparece. Não que tenha nada demais para ele ver, só as estrelas brilhando lá longe e a silhueta de Vorha quase desaparecendo.

— Não acredito — ele murmura.

Eu estava tão feliz enquanto ele estava calado...

Ele olha para trás, e então de volta para o monitor.

— Não achei que fosse possível... Você conseguiu invadir e extrair um prisioneiro de Vorha. Impressionante.

É, eu fui a primeira. E não posso nem me gabar disso.

Pense no dinheiro. No dinheiro e no motivo por trás disso tudo.

Quando Drek me ofereceu esse trabalho, pensei seriamente em vender a informação para a força tarefa - foram eles que provaram que Te'vi Arcen era o responsável por boa parte do tráfico de mulheres e o prenderam. Nada mais justo que serem informados que alguém queria libertá-lo. E então Drek me mostrou um vídeo das crianças krijkare numa instalação médica. Depois disso, tenho uma nova definição de golpe baixo, porque passar anos dentro do que é basicamente um hospital gigante não é o tipo de infância que desejo para ninguém. E é o que sempre acontece com eles, por causa de um defeito genético ou coisa assim.

Antes de ver aquele vídeo, eu diria que nada nesse mundo - em qualquer mundo - seria o suficiente para me fazer aceitar esse trabalho. Depois dele e de Drek me explicar a história dos krijkare e dos drillianos, como as duas espécies foram criadas em laboratório, com uma "data de validade" definida... Não tenho outra opção.

Arcen (Filhos do Acordo 7) - DegustaçãoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora