Capítulo 8 - Tyler

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     Túmulos e mais túmulos brilhantes cercam a cidade, a torre do silêncio no centro impõe medo nos prisioneiros, é o lembrete diário de que os nove bispos estão aqui. Faz um dia nublado como em quase cem por cento do tempo aqui, diferente da trincheira. Clancy pousa no prédio ao lado, e agora me lembro dele. Ainda não estou com a memoria cem por cento recuperada, mas o mais importante era ele. Clancy é minha esperança, Clancy é o ciclo da vida e da morte, Clancy é a lembrança de que tenho que lutar, e eu sou o único que o tem e que o pode sentir aqui.

     Acordo totalmente quebrado, mas estranhamente cheio de energia. Uma flor amarela repousa em meu peito, a flor que arranquei antes de perder a consciência na trincheira, levanto e caminho até a gaveta que semanas atrás outra flor solitária estava guardada, mas desta vez não havia apenas uma, mas meia duzia delas. Agora eu me lembro, essa não foi minha primeira fuga. Em todas as outras falhei pois não sabia o que procurava, mas aquelas palavras eram a chave para encontrar o caminho. Sahlo Folina. 

     Me viro, e só então reparo em duas coisas. A primeira é que há uma luminária no centro quarto, que representam as torres do silêncio, e isso significa uma coisa: eu sou o próximo a ir para os túmulos de neon. A segunda, é um envelope que foi deixado embaixo da porta. Vou até ele, o abro, e tiro uma carta de dentro, ou melhor uma carta não, um mapa.

     No verso apenas uma frase: "O LESTE ESTÁ PARA CIMA".

     O leste está para cima... Olho bem para o mapa, e no canto dele há uma bússola, pego um lápis risco o norte e o leste, e inverto os lugares, depois giro o mapa para o leste voltar a seu lugar, e com isso o oeste passa a ficar ao norte, e o norte ao sul, mas as posições pouco importam, quando faço isso reconheço os túneis que o mapa quer mostrar. Há uma porta que nunca está aberta no subsolo dos dormitórios, segundo o mapa a porta leva a um túnel que segue até as trincheiras. Alguém está me ajudando.

     Deixo as flores na gaveta, pego minha mochila e guardo ali alguns itens do quais nunca usei aqui dentro, e nem sei ao certo o porquê os tenho: uma touca vermelha, um óculos de sol branco, e uma camiseta florida. Visto a jaqueta que usava na trincheira, boto a mochila nas costas, e me despeço do quarto como se fosse a última que piso ali.

     No corredor ouço uma movimentação fora do comum, e quando espio vejo todos vestidos com o uniforme cinza do distrito que mais parece um pijama. E assim que penso em sair dali, uma fraqueza começa a cair sob meu corpo, e o medo toma conta de cada parte de minha mente.

     Eles iniciaram o ritual. 

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