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Estava saindo da segunda aula que era física, caminhando diretamente para a sala do diretor — a qual havia sido chamada segundos antes —

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Estava saindo da segunda aula que era física, caminhando diretamente para a sala do diretor — a qual havia sido chamada segundos antes —. Havia uma tentativa falha em tentar adivinhar o que eu poderia ter feito de errado até então, e nada me veio à cabeça.

 Havia uma tentativa falha em tentar adivinhar o que eu poderia ter feito de errado até então, e nada me veio à cabeça

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Dois toques foram o suficiente para que um "entre" fosse dito do outro lado da porta. Fui recebida com um grande sorriso, o senhor grisalho segurava um pedaço de papel em suas mãos como se aquilo fosse a coisa mais importante de sua vida.

— Senhorita Collister, recebi esta manhã esteve convite do senhor Benjamin para entregar a você. — Esticou o pedaço de papel em minha direção.

Meus olhos percorreram o papel que falava algo sobre um jogo de futebol que aconteceria no sábado na universidade para qual sonhava ir. Não era um jogo feminino, mas ainda assim era uma final de futebol.

— Eles pediram desculpas por não ser um jogo feminino, a final havia sido na semana passada. — Explicou. — Mas fazem questão que vá visita-los e assistir o jogo dos rapazes no sábado. Falou também sobre a festa que acontecerá após o jogo.

Caminhando pelo corredor, coloquei aquele pequeno pedaço de papel em meu peito, abraçado como se aquilo fosse o meu passaporte para a universidade.

Ela não ficava muito longe de onde morávamos, provavelmente teria que pegar um ônibus e levaria uma hora ou uma hora e meia.

— Por que você está sorrindo tanto? — Perguntou Lola curiosa. — O que é isso em sua mão?

Rapidamente Lola conseguiu arrancar o papel de minhas mãos sem muito esforço. A questão era que eu mal conseguia me concentrar naquela loucura toda.

— Um convite para assistir à final do futebol masculino da universidade? — Perguntou boquiaberto.

O brilho em seus olhos era evidente, quando imaginei que talvez ela fosse sentir um pouco de receio ou vontade de viver o mesmo, sua única demonstração fora de felicidade por mim.

— Eles estão muito interessados em você, precisa arrumar um jeito de ir. — Incentivou.

— Meus pais estarão em um retiro da igreja pelo final de semana. — Contei. — Com certeza vou arrumar um jeito de ir.

— Tenho uma grana para o ônibus, posso emprestar para você. — Sugeriu.

Eu não tinha um emprego. Não ganhava uma mesada. Não havia dinheiro guardado em lugar algum. E ela sabia bem disso.

Balancei a cabeça concordando e a abracei em agradecimento.

Ela com certeza era uma das coisas que mais me fazia agradecer a Deus, sua amizade.

A cada dia que chegava em casa era um pouco mais difícil estar escondendo toda a minha vida secreta para minha família, quer dizer, parte dela

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A cada dia que chegava em casa era um pouco mais difícil estar escondendo toda a minha vida secreta para minha família, quer dizer, parte dela. Papai e mamãe nunca sonhariam com uma filha jogando futebol "coisa de menino" na cabeça deles.

Embora minhas irmãs fossem criadas desde cedo da mesma forma, de alguma maneira encontrei um modo de repassar ensinamentos que havia aprendido fora daquela casa.

Todos precisavam ter uma visão ampla e externa. As pessoas são diferentes. As culturas são diferentes. Os meios em que vivemos são diferentes. E a grande questão é eles acharem que apenas a forma que vivem é a correta.

— Você tem certeza que não irá conosco para o retiro? — Mamãe insistiu mais uma vez antes de colocar as malas no carro.

— Perfeitamente. — Concordei.

— Se precisar tem lasanha no congelador da geladeira. — Explicou. — Amo você, vem cá.

Passou os braços em volta do meu corpo e o apertou com toda sua força, esmagando cada parte do meu corpo.

Me senti sufocada. Como se o ar que estivesse em meus pulmões estivesse se esgotando a cada aperto mais forte.

Acenei repetidamente enquanto o carro se afastava da nossa casa. E aos poucos o ar voltava e principalmente algo que jamais imaginei que sentiria antes de sair de casa: liberdade.

Analisava atentamente cada peça do meu guarda-roupa. Não haviam muitas opções para uma jovem ir assistir um jogo de futebol. A maior parte deles eram saias que eu não tinha o hábito de usar a não ser em nossas idas frequentes a igreja.

 A maior parte deles eram saias que eu não tinha o hábito de usar a não ser em nossas idas frequentes a igreja

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Há dois anos havia convencido mamãe que era um pouco inapropriado ir à escola com saias. Isso afetaria tanto a minha locomoção, quanto o meu desenvolvimento em jogos pela educação física.

Haviam apenas duas calças de moletom que eu poderia utilizar, o motivo? Elas eram largas e não marcavam meu corpo, principalmente por eu não ser tão desenvolvida, comparada as outras meninas do colégio.

Procurei por uma blusa que Lola havia me dado de presente e eu ainda não havia usado. Era preta com o número 22 na frente, era o número que eu utilizava nos jogos de futebol, assim como o boné escondido no fundo da minha gaveta.

Por sorte não precisava me preocupar em mamãe encontrá-lo já que todos da escola tinham ele. Mas ainda assim, procurava deixá-lo sempre fora do seu campo de visão.

Deixaria tudo pronto para o dia seguinte. Iria sair cedo para conhecer a universidade como o diretor havia explicado e no fim, ainda poderia assistir ao jogo deles.

Meu celular apitou e estranhei ao ler um "quero te ver logo". E então me veio à cabeça que havia emprestado o celular para minha irmã trocar mensagens.

"Jeannine estará fora neste final de semana, quando chegar aviso para entrar em contato."

Enviei a mensagem para me certificar que ele soubesse que o fato de não estar recebendo mensagens de volta não tinha nada haver em ela não estar interessada, simplesmente não estava em casa.

Ah, eu fazia tudo por aquelas duas.

O Campeonato (AMOR EM JOGO)Where stories live. Discover now