Capítulo 02: Alguém na Colina-das-Libélulas

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Liam saiu desiludido. Logo no primeiro obstáculo ele desistiria?

"Claro que não!", pensou ele, com o olhar determinado.

Nesse momento, um faxineiro muito pistola saiu da porta lateral, praguejando horrores, enquanto jogava seu uniforme e utensílios na lixeira mais próxima. Foi embora sem olhar para trás.

"É incrível como tudo dá certo!"

Já infiltrado no prédio, Liam seguiu para o 14° andar. O cantor misterioso ainda cantava, então seria fácil chegar até ele.

Nada deteria o garoto.

*    *    *    *    *    *    *    *    *

Raúl voltou ao mundo dos sonhos. Já estava se tornando uma coisa recorrente. Claro, quem poderia culpá-lo? Era como uma fulga de sua realidade monótona e cinzenta.

Seu tutor, Evandro, não permitia que ele saísse do apartamento, não permitia que ele tivesse amigos. O jovem não sabia nada do mundo exterior, além das paredes frias do Edifício Montevedro, o prédio mais alto da Irlanda.

Dessa vez, o Garoto-da-Torre foi um pouco mais longe, cada vez mais profundo em sua própria mente. Não era como no mundo real, onde ele já tinha dominado completamente o apê. Onde ele estava, PRECISAVA ser explorado. Se Raúl não o fizesse, ninguém faria.

Um pouco além da colina que vira na primeira vez, quando pensava finalmente ter escapado da torre, havia outra, um pouco maior. O que chamou a sua atenção foi a presença de várias libélulas por toda a parte.

O pequeno Raul não perdeu tempo, num pulo ja estava lá.
Ao contrário do muitas pessoas (não que ele conhecesse alguma outra, além de Evandro), ele não tinha medo dos insetos. Sabia que, se ele não mexesse com as libélulas, elas não mexeriam com ele.

Os insetos alados estavam dançando pelo ar num ritmo contagiante. O Garoto-da-Torre se sentiu convidado a  acompanhá-los. Não havia condições nem regras. Era só ele e as libélulas.

Depois de brincar e dançar junto com elas, ele caiu de costas no chão, extasiado. Fechou os olhos, para aproveitar os raios de sol daquela manhã.

- "Hahahahah..." - ele ouviu uma voz ao longe.

- Que estranho, será que estou ouvindo coisas? Não tem mais ninguém aqui.

Deu de ombros, voltou a fechar os olhos

- "Hahahahah... Uhuuuuuul!!" - outra vez.

Ele se levantou num salto. Começou a andar, para ver se achava o dono da voz. Foi quando ele viu que a Colina-das-Libélulas era maior do que ele pensava. Ela se extendía por quase 1km.

Bem no meio dela, havia OUTRO garoto. Um pouco alto, magro, pele clara, ondulados cabelos arco-íris. Isso foi o que chamou mais a atenção de Raúl.

Sua primeira reação foi fugir, com medo de ser visto pelo garoto, mas não o fez. A experiência de estar no mesmo ambiente que outra pessoa, tirando Evandro, era tudo o que ele queria.

O menino desconhecido parecia estar se divertindo muito com as libélulas, como se o mundo ao redor não importasse. Aquilo era puro, inocente, sincero, vinha de dentro. Não havia quadro mais belo que aquele.

- Essa é a vida que eu quero ter! - o Garoto-da-Torre deixou escapar, encantado. Ele foi ouvido pelo outro jovem.

Trocaram olhares assustados. Raúl olhou para trás, cogitando fugir. Mas, ao invés disso, caminhou lentamente até o menino do arco-íris. O anseio em seu coração por aventura era muito maior que seu medo do desconhecido.

O Garoto da TorreWhere stories live. Discover now