Capítulo 1

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Nem Deus pode afundá–lo?

Um bloco de gelo provou o contrário...

A primeira década do século XX pode ser definida como turbulenta, mediante a sucessão de acontecimentos que começaram a modificar radicalmente os rumos da história.

O casamento definitivo entre a ciência tecnológica e a economia impulsionaria a indústria. As máquinas, agora produzidas em larga escala, passariam a facilitar a vida doméstica. E assim, a dona de casa se encantaria pela compacta lavadora de roupas, enquanto o chefe de família poderia sonhar em obter o seu primeiro automóvel... O cinematógrafo, por sua vez, venderia as mais variadas fantasias – criando astros e estrelas que arrastariam multidões às salas de exibição.

Tempos modernos.

O primeiro avião motorizado decolaria sem ajuda de impulso externo... o impossível tornando–se possível... E assim, Santos Dumont e os irmãos Wright disputariam o pódio pela façanha. O surgimento do avião revolucionaria todos os segmentos da sociedade; ao passo que a sofisticação do navio a vapor, especialmente aquele destinado ao transporte de passageiros, faria do homem comum "cidadão do mundo" – uma vez que ele poderia ir de um país a outro com todo o conforto, em questão de meses e até de dias. Olimpic; Britannic; e finalmente, o Titanic –"navio dos sonhos" que singraria os mares rumo à tragédia.

Não obstante, o avanço tecnológico acabaria desencadeando novas maneiras de se perceber o mundo e de se valorar a passagem do tempo. As relações de trabalho se modificariam drasticamente com o aceleramento da produção. E isso também alteraria as relações familiares.

Tempos fordistas.

No início do século XX, as mudanças políticas pelas quais o velho mundo passava culminariam num efeito dominó sobre diversas outras nações. A monarquia recém–deposta em Portugal era apenas um exemplo... E sua maior ex–colônia navegaria num mar de instabilidade política, decorrente de revoltas internas.

Definitivamente! O mundo, na década de 1910, não veria dias tranquilos... Alguns dos conflitos nacionais, já intoleráveis, tornar–se–iam estopins para questões de ordem internacional. O clima político estava caminhando rapidamente para um desfecho assustador, com proporções imprevisíveis para os mais afiados analistas da época.

As notícias sobre o acento das hostilidades entre a Alemanha e seus países circunvizinhos corria o globo... Estando em plena ascensão industrial e econômica, e por adotar uma política militarista, a nação do kaiser já era temida por outras potências – especialmente, Inglaterra e França.

Nunca a diplomacia seria tão necessária para contornar o iminente confronto. Da parte da Alemanha, por ainda não se sentir preparada estrategicamente para enfrentar os oponentes; da parte francesa e anglo–saxônica, por não terem encontrado um meio de neutralizar os alemães sem estrondosos efeitos colaterais. Desafiar a Alemanha abertamente era o mesmo que desafiar o Império Austro–húngaro... Mas não deixava de ser irônico que as monarquias envolvidas nesse conflito estivessem ligadas pelo parentesco – o rei da Inglaterra era primo do kaiser da Alemanha e do czar da Rússia. Tudo muito doméstico!?

De qualquer forma, as partes precisavam firmar alianças e desenvolver formas de controlar os danos – antes de se lançarem a um confronto que alguns grupos almejavam mais que tudo, dentro do governo de cada potência envolvida. Por seus próprios interesses, convictos de sua superioridade.

O cenário político da calmaria, porém, continuaria até que a oportunidade perfeita aparecesse. E a guerra sempre foi a oportunidade perfeita para os ambiciosos menos imprudentes, destituídos de compaixão humanitária.

O Papiro (1988) AMAZON COMPLETO Where stories live. Discover now