Capítulo 1

3 1 0
                                    

O som ensurdecedor do rádio-relógio me diz que já são 6 da manhã.

Parece que o som dele está mais alto do que o normal...

Por Deus, acho que vou enlouquecer.

Dou-lhe um tapa e ele silencia.

Meus olhos estão relutantes para abrir. Eu não deveria ter ido dormir tão tarde ontem...

Espreguiço-me pesarosamente e encaro os raios de sol formando ondas no teto.

Mais um dia cruel no trabalho, com pessoas igualmente cruéis. O pensamento me deixa mais triste do que deveria.

Agilizo-me em levantar.

Engraçado... Tudo parece mais silencioso hoje.

Sem os vizinhos gritando como normalmente, sem carros buzinando debaixo da minha janela.

Ignoro o pensamento e aproveito para tomar um breve banho.

A água gelada correndo pelas costas me faz lembrar o quão odeio segundas-feiras.

Solto um suspiro pesaroso.

Poderia ser pior, Nina... Poderia ser pior.

"O trabalho não é lá tão ruim", minha consciência vem me avisar. "Você poderia estar desempregada".

Não é lá tão ruim, consciência?! Eu trabalho em um escritório gigantesco, com milhares de janelas mostrando a grande cidade debaixo do arranha-céu. Lá é tudo tão frio: o ambiente, as vozes das pessoas, o som do telefones, o teclar dos dedos nos teclados,...

Ainda assim, deveria agradecer por estar empregada. Minha consciência reproduz a voz de minha mãe que sempre usa a mesma frase, fazendo-me parecer uma ingrata ao reclamar tanto.

Termino o banho, enrolo-me na toalha e sigo para meu quarto, a procura de alguma roupa que me faça parecer mais animada.

Já vestida, decido por passar na cafeteria da esquina para comprar um muffin e um café.

Não estou com muita paciência para continuar aqui.

Saio no corredor e não encontro os meus vizinhos berrando um com o outro, o que é extremamente comum nas segundas-feiras.

Prefiro ver isso como um bom presságio.

Aperto o botão do elevador enquanto checo minha agenda no celular.

Preciso levar as roupas para lavar e pagar as contas.

O apitar indica que o elevador chegou e eu aperto o T como se não houvesse amanhã. Não quero correr o risco da sra. Müller entrar com seus 5 cachorros que não param de latir nunca.

As portas se fecham e eu volto a respirar. Não havia percebido que tinha segurado a respiração.

Durante esse pequeno trajeto do 7º andar ao térreo, lembro a mim mesma de que as coisas podem melhorar.

É só uma fase ruim, Nina. As coisas vão se ajeitar.

As portas se abrem novamente e sigo pelo hall.

Estranho... Max, o porteiro, não está regando as plantas como usualmente.

Adoro ver seu sorriso pelas manhãs, aqueles cabelos brancos e o par de olhos castanhos me fazem lembrar meu avô.

Sinto tantas saudades de casa...

Atravesso a porta do prédio e absolutamente nada faz sentido.

Não há pessoas, não há trânsito, não há buzinas berrando.

Somente um silêncio aniquilador e um vento completamente estranho.

Interditaram a minha rua?

Olho para os lados a procura de alguém.

Continuo minha caminhada pela calçada e consigo ouvir meus próprios passos no concreto.

– Olá? – Minha voz faz eco pelas paredes dos grandes prédios.

Chegando na cafeteria, as coisas ficam ainda mais estranhas.

Não há ninguém.

Entretanto, as luzes e as cafeteiras estão ligadas, com o costumeiro vapor saindo pelo topo.

Fico parada na porta sem entender nada.

Chamo por alguém, mas ninguém responde.

Somente o som das cafeteiras funcionando.

Ok... Estou começando a ficar assustada.

Será que rolou um ataque zumbi ou algo do tipo?

Saio correndo da cafeteria em busca de informações.

Corro pelas calçadas, olhando para dentro das lojas.

Não há uma alma viva!

Chego no parque que fica ali próximo e também não há ninguém.

– O que aconteceu aqui? O que está acontecendo? – Grito em plenos pulmões para o nada.

Nada, além do vento e do medo que ali se instalam.

antes de despertarOnde histórias criam vida. Descubra agora