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---Iris--- (07/04/2018 , quarta-feira)

Abro os olhos por causa do barulho que se ali instalou e franzo as sobrancelhas ao ver que muitos dos presos estavam a olhar para o corredor. Levanto-me com dificuldade e vou em direção da parte da frente da cela.

-Conseguiram escapar!- o Jack dá dois pulinhos no ar e eu franzo as sobrancelhas.

Olho para o corredor e reparo que estavam lá dois prisioneiros a lutar. Talvez os que o Jack referiu ontem.

-Não é lindo?- a Mady sorri e eu nego , voltando novamente para a minha cama.

-Perda de tempo.- suspiro.

Estou com sono e para melhorar , com uma forte dor de cabeça.

-Menina Mady, o diretor precisa de falar com a senhora.- uma guarda aparece e puxa a Mady para fora da sua cela.

-Ups , nada bom.- o Jack arregala os olhos.

Passado algum tempo, todo o barulho que se instalou ali , foi abafado por um leve silêncio que me deu motivos para voltar a dormir.

-O que achas que o diretor lhe quer dizer?- pergunto ao Jack que estava sentado na sua cama.

-Não faço a mínima ideia. Ela guarda droga ali , alguém pode ter visto.- o Jack suspira.

-Vocês são namorados?- pergunto confusa mas logo me arrependo quando o Jack me deita um olhar malicioso.

-Claro que somos.- ele fala com um enorme tom de ironia presente na sua voz rouca e eu reviro os olhos.- A Mady não curte rapazes , se é que me entendes.- ele pisca o olho e eu assinto.

-Como é que ela consegue transportar droga para aqui?- pergunto com curiosidade.

-Há muitas pessoas aqui que conseguem , seja pelos canos , pelos esgotos.- o Jack fala e pela primeira vez , não estava a ser irônico.- Porquê? Não me digas que a menininha também quer.- ele ri e eu não respondo.

-Se eu quisesse , que não é o caso, não tinhas nada aver com isso.- sorrio falso.

-Também não queria saber.- ele ri e eu não respondo.

No momento em que se instala silêncio, a minha cabeça mergulha nos meus pensamentos.
Como sempre , lembro-me dos meus pais , da universidade que deixei por completar e da minha irmãzinha.

Eu e ela tínhamos uma ligação muito forte. Estávamos sempre juntas quando eu estava em casa , nunca nos largávamos.
E só de pensar que quando sair daqui ela vai estar crescida , quero chorar , e ir embora daqui. Gostava de poder acompanhar toda a sua infância. De lhe ensinar as leis da vida e de a abraçar quando ela estivesse mal.
Queria dizer-lhe que o amor não é fácil , e que todos sofremos qualquer dia com esse sentimento , apesar dele ser dos melhores que podemos sentir.
Tenho medo que ela me rejeite quando eu finalmente sair daqui , medo de ela me achar uma assassina.

-Em que tanto pensas?- o Jack pergunta e eu encolho os ombros.

-A minha vida lá fora.- respondo. Talvez não seja bom estar a contar-lhe tudo sobre mim , até porque não sei nada sobre ele. 

-Família?- ele pergunta e eu assinto , sem dar muita importância.- Nunca tive uma.- ele encolhe os ombros.

A prisão é um lugar curioso. Não bom, mas curioso. Onde pessoas partilham as suas histórias e tentam se sentir em casa.
Todas estas pessoas , apesar de serem criminosas têm uma história. O Jack , não tem família , e não consigo sequer imaginar  a dor que ele deve sentir quando vê uma.

-Como é a tua família?- ele pergunta , e admiro-me por ele estar a fazer perguntas sérias.

-Uma família normal , com os seus altos e baixos de vez em quanto.- suspiro.

Confesso que me despertou curiosidade saber sobre o passado dele. Gostava de saber o passado de todas as pessoas daqui. O porquê de terem vindo parar aqui.

-Uma vez , disseram-me que eu ía encontrar uma família. Eu sempre acreditei nisso , até vir parar aqui.- ele baixa a cabeça.

-Hora do banho.- um guarda aparece com dois pratos de metal a chocar um no outro.

-Como é que isto funciona?- sussurro para o Jack.

-As raparigas vão juntas e os rapazes vão juntos , não é muito difícil.- o Jack fala , novamente no seu tom cheio de ironia.

Saio da cela acompanhada do mesmo guarda que passou e sou empurrada para uma sala.
Olho em volta e reparo que há imensos chuveiros , todos velhos e sujos. Há também sanitas , para minha surpresa.

-Olha a novata.- uma voz que eu já conhecia fala atrás de mim e logo a seguir sinto os meus joelhos chocarem contra o chão. Cabra.

-Coitada.- outra das vozes que eu também já conhecia fala e eu sinto uma dor forte no estômago quando sou atingida por um pontapé. São as amigas da Mady.

-Deixem-me em paz.- peço mas sou atingida por um pontapé novamente.

-Nós mandamos aqui. Não é o teu deixa-me em paz que nos vai fazer parar.- a loira fala como se fosse óbvio e vejo-as parar assim que entra uma guarda no espaço.

-Parem com a palhaçada. O tempo está a contar.- a senhora aponta para o relógio e eu levanto-me com dificuldade.- Está aqui a roupa lavada.- a mesma guarda aponta para uma pilha de roupa, lavada.

Dispo a minha roupa com um pouco de vergonha do meu corpo magro e dirigo-me para um dos chuveiros.

Água fria , só sai água fria , e isso fez-me dar um pulinho por causa do contacto gelado.

-Habitua-te , princesinha.- uma das raparigas cospe e eu suspiro.

Nunca bati em ninguém , nem nunca tencionei fazê-lo. Espero que estas raparigas não me obriguem a fazer o contrário.

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Prison | Jack.G On viuen les histories. Descobreix ara