Capítulo VI.

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Antes:

A verdade é revelada, a nave que resgatou Kajka é um ponto de compra e venda de escravos onde tratam as pessoas como coisas. Graças a Kloéh, Kajka descobre que havia um plano de fuga que começava e terminava com ele e então aceita unir-se ao fugitivos.

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Agora:

A mão de Kloéh estava úmida.

Estávamos sentados do lado de fora da "sala de reunião", em silêncio e de mãos dadas. Pediram para que eu saísse e ela veio comigo. Eu estava em dúvida entre me focar em entender o falatório nada discreto de todos e começar uma sessão de perguntas com a doutora. Depois de um tempo cheguei à conclusão de que estava mais interessado na segunda opção.

― Então ― comecei. ―, você realmente acha que não consegue descobrir quem eu sou e, sabe, como eu faço... aquilo.

― Sim! ― disse Kloéh, encarando as pernas. ― Desculpa, mas eu nunca vi algo como você. Nem eu nem nenhum outro doutor que esta nave já teve.

― Tem uma coisa que eu queria perguntar ― falei. ―, uma coisa que pode ser de grande ajuda e que parece que ninguém pensou: que idioma eu falo? Como vocês se comunicam comigo?

Kloéh balançou a cabeça.

― Não é que ninguém pensou nisso ― disse ela. ― É que o seu idioma é gardiniano, ou seja, de Gardim.

― Então eu sou de Gardim?!

― Pode ser ― continuou ela. ―, mas o idioma que a maioria da tripulação fala é tupihla, que é quase uma primeira língua universal.

― E?

Gardiniano seria a segunda! ― contou. ― É um idioma muito comum de saber, então não é de grande ajuda.

― Ah... ― olhei para o teto. ― Que pena, eu realmente esperava que, sei lá, fosse uma boa ideia.

― Ei, não fica assim! ― Kloéh acariciou meu cabelo. ― Sabe, o lugar mais importante onde se fala gardiniano é Praytos e é pra lá que nós vamos quando sairmos daqui.

― Por que?

― A maioria das pessoas aqui não têm para onde voltar ― disse ela, tristonha. ― e Praytos é um lugar onde é possível ir para qualquer outro lugar. Se chegarmos lá, Faéro nunca mais vai nos achar.

― Parece bom, mas e eu? Eu não só não tenho pra onde voltar, eu não sei nada sobre nada.

A doutora hesitou.

― Azu e eu nunca falamos sobre para onde iríamos quando saíssemos daqui ― Kloéh parecia emotiva. ―, nossa aldeia deve ser um monte de mato hoje em dia e todo mundo que conhecíamos morreu. Ninguém nos espera.

A encarei.

― Eu lamento.

― Obrigada, mas não precisa! Não estou dizendo isso como algo triste. ― ela sorriu para demonstrar o que dizia. ― Só quero dizer que não posso largar você por aí, assim. Seria uma péssima doutora e uma péssima amiga se fizesse isso

Franzi o cenho e ela riu.

― Se ainda não entendeu ― disse ela. ― eu quero ajudar você a descobrir quem é. Eu prometi, lembra?

Aquele Que Veio de Fora!Where stories live. Discover now