Capítulo 20

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John

Semanas se passaram até conseguirmos chegar ao lar das fadas, o Templo Virtus. Todavia, o que encontramos não se parece em nada com a descrição dada por Morgana.

Para onde quer que meus olhos se voltem, vejo somente destroços chamuscados do que um dia foram casas e o próprio templo. Em contrapartida, uma atmosfera pacífica paira no ar.

-O que houve aqui? -Katrina questiona.

-Feiticeiros obscuros. Ainda consigo sentir a magia negra. -Morgana responde sombriamente.

-Eles ainda podem estar aqui. Precisamos partir. -Eleonor exclama.

-Não, Eli. O serviço deles está completo, sugaram toda a vida que existia nesse lugar e o abandonaram, deixando apenas escombros para servir como lembrete. -Morgana explica.

Nenhum de nós a contradiz. O convívio com minha tia nesses dias serviu para mostrar que suas habilidades estão além da minha compreensão.

-Montaremos acampamento aqui hoje. -Morgana decreta e se afasta.

Obedientemente, cumprimos suas ordens. Félix não parece nem um pouco confortável com a escolha do lugar para descansarmos, mas não profere objeção alguma. Assim como eu, a experiência do cotidiano com uma bruxa nos impede de contestar suas regras.

Antes de prosseguirmos nossa jornada após encontrarmos Morgana nas margens do rio Perpetumm, ela deixara claro que só nos ajudaria se seguíssemos suas normas. Uma delas era a de jamais contrariar a sua intuição.

A lista não era tão extensa, além de não questioná-la, não podemos nos afastar, ocasionar brigas, reclamar de cansaço ou tocar em Argos. Concordei plenamente com a última, mas Katrina teve dificuldades em conter seus protestos.

Ao longo do caminho, dois dos meus soldados decidiram retornar a Pélagus por não concordarem em serem subordinados a alguém como minha tia. Não tentei impedi-los porque, desde o início, a ajuda e permanência dos mesmos havia sido voluntária e eu não obrigaria ninguém a permanecer ao meu lado. Horas mais tarde, encontramos seus corpos dilacerados na mata.

Seus rostos disformes e membros amputados ainda me assombram durante o sono, só os identificamos pelos retalhos que restaram do uniforme. Ninguém mais cogitou a ideia de desertar a partir daí.

A rotina que mantemos é exaustiva e já percebo o peso da nossa jordana nas faces de todos ao meu redor, maçãs do rosto mais fundas, olheiras acentuadas e uma magreza progressiva. Caminhamos de dia e dormimos à noite, sem perder o ritmo.

Um aditivo bem-vindo com a chegada de Morgana foi o de Argos sempre caçar nossa comida. É um alívio para o grupo inteiro, tendo em vista que a nenhum de nós agradava a atividade de explorar a floresta.

Enquanto analiso o terreno, vejo Suzi se sentar isolada em um pedaço de tronco e respirar fundo. Sem dúvidas, ela é uma das pessoas mais afetada do compasso acelerado imposto por Morgana.

-Você está bem? -Pergunto e lhe entrego o cantil de água.

-Estou, meu querido. Não há nada com o que você precise se preocupar. -Suzi diz e em seguida deixa escapar uma expressão de dor.

Examinando com mais afinco a sua postura, noto uma mancha de sangue na barra de sua calça. Imediatamente, agacho-me em sua frente e procuro pelo ferimento. Em toda a lateral de sua panturrilha esquerda há um rasgo profundo.

-Escorreguei em um dos declives que tivemos que escalar. Não lhe disse nada para não atrasar a busca por Cecília. -Ela explica.

-Colocar sua vida em risco não é uma opção, Suzi. Essa ferida pode infeccionar e você pode perder parte de sua perna. Por favor, não faça mais isso, se tiver algum problema, precisa me dizer. -Peço com certo desespero.

Palácios De Cinzas - Livro 2 - Trilogia Mestiços Onde as histórias ganham vida. Descobre agora