Você sempre odiou poesia

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Eu sempre fui uma poesia. Você sempre odiou poesia, não é? A tua repentina ida só prova este fato. Poesias são coisas complicadas de se entenderem, e você sempre preferiu as coisas fáceis. Você nunca gostou de poesia, e eu sempre fui uma poesia. Uma poesia cheia de complicações, de desencontros. Uma poesia com muitos versos e estrofes.

A dor da tua ida ainda aperta o meu peito e me deixa com calafrios. Penso nas noites em que tentei deixar de ser poesia só para te agradar. Para quem sabe, você começar a me amar. Mas eu nunca conseguia. O meu verso complicado sempre me entregava; eu nasci poesia e vou morrer poesia. Tentei te assegurar várias vezes que poesias como eu, são difíceis de entender apenas no inicio, com o tempo se tornam mais fáceis. E você sempre fugia de mim e acabava voltando. Sempre voltava porque você sabia que precisava da poesia viva que eu era, embora não admitisse.

Você nunca me conheceu de verdade; nunca se permitiu isso. Nunca se permitiu decifrar minhas entrelinhas e compreender meus versos complicados. Verdade seja dita, eu era cheia de problemas. Mas você era mais. Como podia tanto odiar poesias? O que elas haviam feito para você?

Poderia acontecer de você se apaixonar por uma poesia, se apenas deixasse seu orgulho de lado e começasse a lê-las. É, você nunca conheceu a poesia que eu era de verdade, mas eu conhecia você. Eu sempre te via sonhando sozinho e me perguntava por que toda vez que eu te olhava eu te imaginava como um velho poema de Drummond ou de Vinícius. E quando você se foi, eu ainda lia os mesmos poemas e te via com os mesmos olhos. Os mesmos olhos que você abandonou odiando. Sim, você se foi me odiando. Mas eu te entendia. Você sempre odiou poesia e eu sempre fui uma poesia. 

Consequentemente, você passou a me odiar também.

EnserenandoWhere stories live. Discover now