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Dormir na noite passada foi pior do que na anterior.

Pelo menos dentro da oca a entrada dos mosquitos era reduzida, mas aqui, a céu aberto... Nem preciso dizer que os insetos fizeram a festa. No entanto, não foi isso que me impediu de pregar os olhos. Na verdade, as picadas me faziam ter certeza de que tudo que está acontecendo é real.

Como é possível viajar 260 anos no passado?

As mensagens que a Larissa mandou no grupo sobre as pessoas que desapareceram mexeram comigo. Eu agora sou uma desaparecida. Penso na mamãe e no jeito que ela ficou quando mencionei a conversa com a vovó um dia antes de viajar. Seus olhos marejados, as fotos nostálgicas no grupo do Whats, as palavras de carinho... tudo me fazia crer que de algum modo, ela sabia. Além do mais, a mensagem da dona Taciana dizendo que o reencontro aconteceria em 1755 não foi referente ao horário do pouso, mas sim ao ano que eu me encontro.

O que ela quis dizer com reencontro? Ela também está aqui?

Meu corpo se arrepia por inteiro com tantas perguntas e teorias malucas, me impedindo de ter uma noite de sono tranquila. Meus neurônios que nunca trabalharam tanto na vida, formulam milhares de hipóteses e situações para analisar. A única certeza que tenho é que preciso manter a boca fechada. As pessoas dessa época são muito... antigas.

Martín apaga a fogueira antes de dormir, afirmando ser mais seguro para evitar "encontros infortunosos". Concordo no mesmo instante, sem praguejar. Chega de rolês desagradáveis. E assim, com nossos corpos colados para nos manter aquecidos durante a madrugada fria, eu passei a minha primeira noite oficial ao lado de um desconhecido do século dezoito.

Oficial porque até ontem, eu jurava que ainda estava em 2015.

Consigo ver o céu soturno trocar seu manto escuro com o nascer do sol, me dando conta de que passei a noite em claro. Martín, que dormiu feito uma pedra ao meu lado, se pôs de pé para iniciarmos o dia.

Tento ajudá-lo a desmontar acampamento, porém, sou cria de cidade grande e quase nunca fiz acampamento na vida. Fui mais útil apenas olhando, e partimos em direção aos Babaçu.  

➳➳➳

Ainda uso a camisa de manga cumprida de Martín para proteger a pele dos raios solares. O sol está forte acima de nós e sinto o suor pingando pelas minhas costas. Estamos cavalgando há um bom tempo, e pude reparar um pouco mais no homem ao meu lado.

Agora, na luz do dia, noto detalhes em Martín que não consegui enxergar ontem. Os olhos são verdes como duas bolinhas de esmeraldas e possuem pintinhas amarelas em volta da pupila. Os cabelos castanho-claro ficam ainda mais claros na luz do sol. A barba começa onde a costeleta termina, contornando as bochechas, queixo e subindo com um rastro falhado até o lábio inferior. O espesso bigode contorna seu lábio superior. Porém, entre todos os detalhes, a parte que mais gosto é quando ele sorri, pois, uma covinha solitária aparece no canto direito.

AMAZONA - A Guerreira do Sul (em pausa)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora