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O relógio pregado na parede de frente para a mesa do escritório marca cinco e cinquenta e quatro

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O relógio pregado na parede de frente para a mesa do escritório marca cinco e cinquenta e quatro. O meu celular mostra dois minutos a mais do que aquele velho utensílio.

Só mais alguns minutos e finalmente poderei dar o fora dali.

Graças a Deus é sexta-feira e amanhã não preciso me preocupar com telefonemas o dia inteiro, nem com pessoas mal-educadas exigindo serem atendidas sem horário marcado. Ah! Como eu amo o fim de semana. Poder dormir até o corpo não aguentar mais, passar o dia todo de pijama maratonando qualquer coisa na Netflix, compartilhando memes, vendo a vida perfeita dos outros no Instagram...

Uma risada nasalada escapa quando caio na realidade.

A quem estou tentando enganar?

Arfo baixinho, deixando os ombros caírem.

Meu corpo é um traíra de uma figa e acorda cedo quando não deve. Não tenho pijama algum dentro do guarda-roupa e nem sempre posso assistir Netflix. Eu sou um usuário parasita, o que dificulta acessar a plataforma vez ou outra.

Respiro profundamente e levanto o olhar para o relógio de números romanos. Os ponteiros demoram uma eternidade para marcar seis horas.

Conduzo os olhos até a porta que liga a sala que estou ao restante do escritório. Faz duas horas que o senhor Freire está em reunião. Há quase um mês ele tem falado sobre a venda do escritório de advocacia que lhe rendeu bons frutos e credibilidade todos esses anos. Ultimamente ele tem repetido bastante que está ficando velho e cansado demais para os problemas das pessoas, e que quer pela primeira vez na vida curtir a aposentadoria.

Como não tem filhos, os sobrinhos estão sondando os negócios do tio desde que comecei a trabalhar aqui. Não é pra menos, o senhor Freire é um dos advogados mais respeitados do estado. Só consegui esse emprego de secretária porque Gustavo, meu melhor amigo, carrega o sobrenome de uma família influente aqui de São Paulo.

Sem faculdade, as minhas chances de ser contratada eram mínimas! A crise nesse país tem sido um divisor de águas constante na vida dos brasileiros. As empresas estão cada vez mais exigentes e competir qualquer vaga que seja com alguém que tenha diploma é até piada — pra mim, pois não tenho chance alguma. Por isso, sou muito grata pela influência do meu amigo.

Quem tem contato nessa vida, tem tudo.

Há quase quatorze meses meu chefe pega no meu pé para começar uma faculdade. Ele não é o tipo de velho chato que enche o saco e reclama de tudo. Pelo contrário, seu Freire é divertido e gosta de dar risadas, mas se tem uma coisa que ele preza nessa vida, é o estudo. Ele sempre diz que quanto mais sabemos mais vivemos.

AMAZONA - A Guerreira do Sul (em pausa)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora