O Tesouro de Deus

Capítulo 51: A Missão da Doutora Naoko - Parte 2

Naoko Watanabe carregava o desacordado Jackson Ventura com bastante dificuldade em seus ombros finos. Respirava ofegantemente enquanto descia o corredor que dava acesso à entrada do calabouço criado por Karmack para colocar os prisioneiros que tentassem resistir à sua abordagem. A atmosfera daquele lugar era completamente diferente das demais acomodações. Não havia nenhuma janela que pudesse possibilitar iluminação e, consequentemente o lugar também era frio, independente do calor que fizesse do lado de fora. Mesmo a doutora Naoko, que já estava acostumada ao confinamento do laboratório, evitava terminantemente adentrar ao calabouço. Mas naquele momento, naquela ocasião em especial, ela e mais ninguém precisavam fazer aquilo. Aquele garoto, sim, ela precisava dele. Havia uma grande missão, de importância inegável, que ela precisava cumprir, mesmo que sua vida estivesse em risco.

Quando enfim chegou à prisão do calabouço, Naoko cuidadosamente colocou Jackson no chão. O jovem abriu lentamente os olhos e se deparou com a doutora, que estava com uma expressão preocupada. Ainda com a voz fraca, ele exclamou:

— Você... ainda está viva!

— E você recuperou a memória, não é? Isso é ótimo! Eu estava me sentindo sozinha com esses monstros!

— E onde eles estão?

— Fique tranquilo, eu tranquei a porta do calabouço e pedi que não me incomodassem pelas próximas duas horas. Disse que iria te interrogar.

— Como você está... conseguindo ficar aqui com eles? Em especial com... Karmack?

— É parte do plano, lembra? Eu preciso abrir caminho para vocês, escolhidos!

— Abrir caminho? - Jackson pareceu ter agora acordado de vez.

— Sim... No momento, vocês não podem mais fazer absolutamente nada para impedir a ambição de Karmack. O Tesouro de Deus já está em suas mãos e é questão de tempo até eles conseguirem controlar o tempo e subjugar o mundo todo!

— Mas que droga... A culpa é minha, eu deveria tê-lo protegido melhor!

— Não diga isso, você sequer se lembrava da existência do tesouro quando caiu aqui em Montserrat. Quando aquilo aconteceu no avião, acredite, toda a linha tempo-espaço foi severamente alterada.

— Deus... agora eu me lembrei. Quando eu fui à Austrália visitar Chloe... Eu queria mostrar a ela que consegui o que tanto estava querendo realizar, queria lhe fazer uma surpresa. Tomei todo o cuidado para não mostrar o relógio de pulso, inclusive o coloquei por baixo da manga do casaco. Estava indo tudo tão bem, a viagem estava até tranquila, até que...

— Eu me sentei do seu lado! E você é tão ingênuo que não percebeu que o governo estava te seguindo o tempo todo. - respondeu Naoko, finalmente conseguindo esboçar um pequeno sorriso.

— Eu achei que você fosse me prender! - respondeu Jackson.

— Eu não poderia fazê-lo! Sou uma cientista do governo e não uma oficial! O que eu poderia e iria fazer era acionar uma unidade no aeroporto de Sydney e interceptar seu portal do tempo. Tudo parecia muito simples, mas não foi bem isso o que aconteceu.

Naoko lembrava-se muito bem das cenas a seguir. Ela acompanhou Jackson e explicou a urgência do jovem entregar o portal do tempo para o governo. Um instrumento assim jamais poderia cair em mãos irresponsáveis. O portal seria entregue aos cuidados de cientistas renomados que iriam estudar o objeto e avaliar a melhor forma de utilizá-lo ou, se fosse o caso, descartá-lo. Embora Jackson ainda estivesse extremamente orgulhoso por sua invenção, concordou com as orientações da doutora Naoko e mesmo entristecido, pensou em entregar o portal ao governo e, quem sabe, contribuir com seus conhecimentos aos maiores cientistas do mundo.