Restos - Parte V

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– O que acha que essa maga sabe fazer, June? – perguntou um dos mercenários que invadia o perímetro do acampamento. Tinha uma espada longa e curva na mão direita, e uma faca menor na esquerda, e um sorriso sádico no rosto ossudo.

A mulher escondida atrás de um escudo quadrado espiou Cornelia por um momento, então soltou uma risada seca.

– Não muita coisa, veja só como está assustada. – ela apontou para Adrian com a espada em sua mão. – E esse menino brincando de ser templário, hein?

– Esperando para ser morto. – disse o homem sorridente. – Não deixe os pés juntos desse jeito, vai ser fácil derrubá-lo assim.

Adrian sacou a espada devagar. Não respondeu à provocação do homem, mas ajustou sua postura segundo o conselho sarcástico de seu inimigo. Precisava pensar em um plano. Cornelia estava às suas costas, e a rampa estava atrás dela. Com uma inimiga logo à frente e outro de cada lado, sua melhor chance seria uma fuga pela Estrada Imperial, na direção de Sir Maron. Antes que ele abrisse a boca para sugerir seu plano à companheira, ela gritou:

– Sir Maron!

Tanto eles quanto os mercenários estacaram. Nenhuma resposta, e os inimigos sorriram como lobos. Sir Maron já havia ido embora há mais de um minuto, tempo suficiente para ter se afastado bastante do acampamento, e o som dos cascos de Mordred contra os tijolos de pedra teriam abafado um grito distante.

– O que fizeram com Hati? – grunhiu Adrian, erguendo o escudo na frente do corpo em posição de combate. Esperava lembrar-se de todas as lições do templário, porque sentia que iria precisar. Relanceando para trás, ele sussurrou:

– Corra, Cornelia.

Se algum de seus inimigos o escutou, não deu nenhum sinal. Contudo, Cornelia também não fez menção de obedecê-lo.

– Ah, Cael logo vai voltar para casa. – O mercenário que gostava de falar enfatizou o nome diferente. – A chefe está lidando com ele, e pediu para nós não deixarmos vocês a atrapalharem. Estávamos pensando na melhor maneira de matar seu templário, mas veja nossa sorte: ele foi embora por conta própria!

O homem deu um passo adiante, seguido por June e pelo terceiro mercenário, um bruto com uma barba preta cobrindo todo seu queixo e pescoço e com uma maça pesada em mãos. Adrian recuou e murmurou entredentes:

– Ande, Cornelia.

A maga não respondeu. Ele deu outro passo para trás enquanto seus oponentes cercavam-nos como uma matilha, mas esbarrou em Cornelia, que nem mesmo saíra do lugar.

Uma luz intensa e pura brilhou sobre sua cabeça. Os mercenários cessaram seu avanço, calculando o perigo que a maga representava. As rugas e cicatrizes em seus rostos ficaram evidentes sob a luz não-natural.

– Você confia em mim, Adrian? – ela sussurrou, bastante próxima a ele.

– Confio – respondeu, mas acrescentou sem querer: –, acho.

Ele sentiu o peso diminuto da palma de Cornelia sobre seu ombro, os dedos alcançando seu pescoço, uma unha roçando sobre uma veia pulsante. Apertou a espada com firmeza, incomodado com aquele toque.

– O que você...?

Sua jugular abriu como uma fonte aguardando há muito para jorrar. Os músculos retesaram da face até o braço esquerdo, imobilizados. Um grito fraco escapou de sua garganta, incapaz de transmitir a agonia de ter o próprio sangue arrancado de si. Ele revirou os olhos para tentar enxergar Cornelia, até as órbitas doerem e não conseguir mais virá-las.

Os mercenários estavam horrorizados. Boquiabertos, olhos arregalados, esquecendo-se do que estavam prestes a fazer. O dedo de Cornelia ainda fazia pressão sobre o pescoço de Adrian, mas seu cajado luminoso movera-se de cima dele e agora apontava diretamente para o mercenário sádico.

Um ruído terrível, um estremecimento na própria estrutura da Estrada Imperial, fez uníssono com as palavras arcanas de Cornelia. Um bloco alvo cortou o ar e atingiu o peito de seu alvo.

Morto.

O corpo foi jogado para trás, de volta para a escuridão além da clareira, rompendo galhos no caminho e esmagando ossos com o impacto.

Outro estrondo, mais blocos despencando atrás dos dois. Adrian queria se livrar do toque de Cornelia, parar o fluxo de sangue que vertia dele, mas um medo paralisante não o deixava agir. Cornelia estava fazendo magia de sangue, o maior pecado que um mago poderia cometer. Maleficar. Abominação. Outra rocha voou, destroçando o escudo da guerreira, jogando-a para trás, prensando-a contra o chão.

Morta.

Adrian jogou-se para longe de Cornelia como se ele próprio estivesse escapando de seus feitiços – e, de certa forma, estava. O último dos mercenários veio em sua direção, empunhando a maça e um grito de guerra vacilante. Adrian sentiu o peito molhado e quente, a camisa sob a armadura empapando com o próprio sangue. Ele ergueu a espada em um reflexo de guerreiro, mas um relâmpago crepitou ao seu lado, tão próximo que o ofuscou, e atingiu o mercenário.

A maça girou no ar e caiu longe de seu dono. Adrian recobrou-se antes do brutamontes e estocou direto na sua coxa. Havia uma artéria importante ali, Sir Maron ensinara, e o sangue jorrou para fora quando ele arrancou a espada. Em segundos, não havia mais vida pulsando seu coração.

Arfando, Adrian caiu sentado sobre a terra. Ele soltou o escudo do braço com movimentos bruscos, ainda sentindo o membro dormente. Levou uma mão ao pescoço. O sangramento era intenso e ele precisava pará-lo imediatamente.

Cornelia se aproximou, ajoelhando ao seu lado como já fizera outras vezes. As palmas abertas de suas mãos emitiam uma luz quente e aconchegante, um milagre familiar, mas ele não deixou que se aproximasse. Adrian pôs sua espada entre ela e o ferimento que a própria Cornelia causara.

Seus olhos encontraram os dela.

– Não conte para Sir Maron, eu imploro. – A voz de Cornelia saiu fraca, incerta, aguda.

Aos olhos de Adrian, seu cabelo ruivo tinha a cor de sangue derramado.

***

Olá, leitores!

O que acharam do capítulo de hoje? Quais vão ser as consequências dessa ação desesperada de Cornelia? Deixem seus comentários para discutirmos a história :D

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Até a próxima semana!

Ossos Quebrados [Dragon Age] [Completo]Where stories live. Discover now