Um instante infinito.

88 14 25
                                    


Amsterdã, 25 de Janeiro de 2019.


– Você pode tirar uma foto minha, por favor? – perguntei, parando em frente a uma mulher que estava prestes a entrar no parque. Ela apenas inclinou a cabeça e abriu os braços num pedido de desculpa, deixando claro que não falava minha língua.

Mostrei-lhe o celular com a câmera aberta e apontei para o portão de ferro atrás de nós, o que pareceu ser suficiente para que a moça entendesse meu pedido. Apesar de aparentar estar com pressa, devido ao modo que sua perna batia no chão inquietamente e pelo terno que estava usando, ela pegou o aparelho desajeitadamente e posicionou-o para a foto.

Dei uns passos para trás e parei ao lado que estava aberto do portão, à direita. Sem saber que pose fazer para a foto (coisa que nunca soube), coloquei uma mão na cintura e abri meu melhor sorriso para a pequena lente. A mulher veio em minha direção e me devolveu o celular, nem esperando que eu agradecesse antes de ir embora com passos largos.

Observei distraidamente por uns instantes seu cabelo loiro balançando de acordo a movimentação de seu corpo, os saltos fazendo um rimado "toc toc" ao encostar no chão. Pisquei algumas vezes quando a perdi de vista e voltei meu olhar à foto, sentindo minha expressão murchar ao notar que ela não estava boa.

Eu estava cortada pela metade, apenas meu lado esquerdo aparecia na imagem. Além disso, do nome "Volden Park" no portão da entrada só estava visível o "Volde". Bufei sozinha, deletando-as para poupar memória e comecei a buscar um novo fotógrafo nas pessoas que passavam por ali.

– Wil je dat ik een foto van jou maak? – uma voz feminina e meio rouca soou atrás de mim, acompanhada de uma cutucada em meu ombro para garantir que eu entendesse que ela se dirigia a mim.

– Desculpe, não entendi. – encolhi os ombros, decepcionada por encontrar uma pessoa simpática que não aparentava falar minha língua. Virei para encarar a garota.

– Você quer que eu tire uma foto sua? – a mesma voz questionou novamente, desta vem em inglês. As palavras vieram acompanhadas de um forte sotaque holandês, o que me obrigou a me esforçar um pouquinho para entender a oferta de início.

– Sim, por favor. – concordei empolgada, tirando um tempinho para identificar a dona da pergunta.

A garota deveria ter minha idade. O cabelo castanho escuro caia sobre seus ombros até sua cintura, tendo em si diversos fios coloridos para destaca-lo, sobressaindo-se as cores rosa e azul. Os olhos azuis, cercados de uma maquiagem excessivamente pesada e preta, também mereciam ser olhados com atenção, além da boca pintada de vermelha que carregava um piercing no lábio inferior.

Isso tudo combinado a suas roupas completamente pretas lhe davam um visual... Incomum, ameaçador. Talvez o termo mais correto seja "não reconfortante", e não ameaçador no sentido agressivo da palavra.

– Vai me dar o celular ou não? – perguntou, impaciente. Forcei um sorriso nos lábios ao constar que eu provavelmente estava deixando todo meu julgamento de sua aparência bem expressos em minhas feições.

– Perdão.

Entreguei o celular e fiz a mesma pose que havia feito anteriormente.

– Coloque uma mão no cabelo. – ela instruiu, apontando para a mão que pendia do lado esquerdo do meu corpo. – Finja que está arrumando-o. Ah, olhe também para o nome escrito no portão e jogue um pouco uma das pernas para frente.

– Assim está bom? – questionei depois de ter seguido as instruções. A garota aproximou-se e puxou minha bolsa, tirando-a do meu ombro e voltou a seu lugar original.

You've reached the end of published parts.

⏰ Last updated: Mar 09, 2019 ⏰

Add this story to your Library to get notified about new parts!

365 chancesWhere stories live. Discover now