Caminho das Fadas - Livro I [DEGUSTAÇÃO]

Mediocrís

As cidades foram criadas em meio às árvores e tudo funcionava em perfeita harmonia — animais e fadas, uns cuidando e respeitando os outros. Ao contrário do mundo humano, onde os animais fugiam deles, os animais de Mediocrís conviviam abertamente com os habitantes de lá, e não havia nenhum perigo nisso, pois todos eles se alimentavam do que a terra dava.

Mas, mesmo nesse belo cenário, os sentimentos mais sombrios podem surgir. Essa é uma história de um passado recente de Mediocrís, e também sua maior tragédia.

Há vinte anos, a nova rainha de Mediocrís assumiu o trono, após sua mãe deixar o reino dos vivos. Diferente de muitos lugares do mundo humano, esta terra era governada por mulheres extremamente sábias escolhidas pelo espírito guardião antes do ritual de passagem acontecer, mas raramente uma rainha escolhida não era a herdeira natural do trono. Seian era filha única de sua mãe e foi educada para ser uma rainha bondosa e justa. Mediocrís nunca foi um reino de conflitos, uma vez que mantinham relações amigáveis com o mundo dos anões e dos elfos desde sua criação, quando a primeira fada surgiu da união de um humano e um elfo. Desde então, as dimensões foram criadas e o mundo primordial foi separado dos demais, fazendo com que cada um tivesse uma parte do que o primeiro mundo tinha. l

Seian, já coroada, não conhecia nada além do seu castelo, e ela sabia que precisava entender toda a cultura que a cercava, de todos os mundos, em prol de um bom reinado. Ela criou um plano: sairia em uma jornada para conhecer os outros mundos, inclusive o mundo humano, o mundo-tabu para as fadas. Seian contou a seu melhor amigo e conselheiro do reino o que desejava fazer e ele imediatamente a impediu de ir sozinha, obrigando-a a levá-lo para fazer sua proteção. Seian aceitou, mas com uma condição: que ninguém em nenhum lugar do mundo humano pudessem saber de sua relação e posição no mundo das fadas, mantendo assim ambos os disfarces de viajantes. Ela queria ter suas próprias impressões e viajar tão perto de seu amigo poderia atrapalhar essa visão, até porque ele era superprotetor. Com sua saída, o reino ficaria sem um líder e, por isso ela teve que pedir a permissão do conselho para seguir com os planos da viagem. O conselho pediu que ela deixasse alguém de sua confiança no lugar enquanto o reino a esperava para iniciar seu reinado, e ela se decidiu por Marion, sua melhor amiga e conselheira, que tomou seu lugar como líder geral de Mediocrís até que a rainha voltasse.

Seian iniciou sua viagem pelo reino dos elfos, onde se encantou pela delicadeza do povo, conheceu sua altivez e pôde ver que a magia dos elfos era muito mais refinada, talvez porque tudo que faziam, faziam com magia. Ela passou pelo reino dos anões e se divertiu muito com os beberrões exímios ferreiros e agricultores — para os quais seu próprio mundo dava os melhores materiais para forja. Chegou então ao mundo humano, seguida atentamente por Aartan, seu amigo e protetor. A princípio ela não sabia o que fazer, então decidiu apenas andar de uma vila à outra.

Quando chegou à capital, Gérbera, a rainha se maravilhou com o castelo, que era muito diferente do que ela já havia visto — era bruto e ao mesmo tempo glorioso. Ela decidiu explorá-lo por dentro, uma tarefa que para qualquer pessoa seria extremamente difícil, mas para ela que estava vestida com a seda das fadas, algo inexistente no mundo humano, seria muito fácil. Para todos que a encontraram, ela parecia alguém da realeza, pois a beleza que tinha combinada com as vestes encantadoras os deixava estagnados.

Assim a rainha se tornou uma dama da corte. Seu fiel escudeiro, ao saber disso, ingressou como guerreiro no exército de Florais, a fim de entrar para a guarda real e manter Seian sob sua proteção. O reino naquela época treinava seus novos recrutas para uma possível guerra contra os piratas, que de época em época surgiam na costa para saquear as aldeias.

A rainha logo conheceu o jovem capitão da guarda real, o vigoroso, determinado e forte Hannes, já famoso por suas vitórias e destreza ao enfrentar seus inimigos e defender o reino. A fada e o humano se apaixonaram assim que se viram.