Estágio 5

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  — Sparkins, eu não sei bem, ouvi uma canção que não conheço ecoar em minha mente — explicou Aaron, espantado.

— Ok, você consegue cantá-la para mim? — perguntou o cientista, muito curioso.

— Vou tentar... — completou.

"Sob a luz do luar, ela veio brilhar

Sob as flores de cerejeiras, começou a orar

Como água que flui em seu caminho, ela se pôs a dançar

Cantava uma canção que enchia o ar

E, como o curso do rio que chega até o mar,

Seu destino era incerto, assim como sua chegada ao lar

E no horizonte distante ela desapareceu sob o luar."

O cientista não entendeu quando o rapaz cantou uma antiga cantiga de Florais. E perguntou a ele:

— Você de fato nunca ouviu essa canção?

— Não, eu não me lembro de onde eu vim ou quem eu sou, como poderia saber sobre canções? — respondeu, atordoado.

— Faz sentido. Mas o que me intriga é: se você não a conhece, como pôde ouvi-la ao tocar no fluido? Definitivamente, Aaron, esse mistério eu vou resolver — disse o cientista, motivado.

O jovem não entendeu a expressão do doutor. Era a primeira vez que o via tão sério quanto a um assunto; mesmo quando descobria um novo espécime ou conseguia combinar flores, ele sempre estava sorrindo e pregando peças nele e em qualquer pessoa que visitasse o laboratório.

Se Aaron tivesse contado que aquela música despertou uma de suas memórias ocultas, era provável que o doutor estivesse ainda mais curioso e sério.

Aaron, além de ouvir a canção, teve uma visão, que lhe trouxe o sentimento de um passado antigo, algo que nem parecia ser sua própria vida, exceto pelo último fato.

Ele se via parado em meio a um bosque de cerejeiras, árvores com tantas flores belíssimas que fariam qualquer um pasmar. Reparou também que havia um clima um tanto quanto melancólico no ar. Havia muitas pessoas no lugar, todas formando um círculo em volta da clareira, que não era tão grande, tinha uma relva baixa e as árvores eram espaçadas umas das outras. No centro estava um grande e majestoso carvalho.

No meio das pessoas havia uma figura bela ao olhar e que aquecia o coração de Aaron; ele não sabia o porquê, mas gostava de admirá-la. A figura estava cantando a canção e os outros a ouviam de cabeça baixa. A voz da mulher era calma e acalentadora.

Ao final da canção, todos saudaram o bosque: deram as mãos, depois as levantaram, se dobraram perante o lugar e abaixaram as mãos, todos juntos. A mulher que cantava apenas dobrou seu corpo para frente. Aaron não entendia o significado disso. Ao final desse ritual, a encantadora mulher veio em direção a Aaron e ele pôde ver melhor o seu rosto. Ela se abaixou e, com carinho, perguntou ao menino:

— Aaron, o que faz aqui?

E assim a visão se encerrou. Ele viu nitidamente o rosto dela à sua frente. Era muito bela, de feições finas e cabelo loiro-prateado que brilhava sob a luz do luar. Seus olhos eram de um verde profundo, suas orelhas um pouco pontudas e tinha estatura mediana. Apesar de parecer jovem, emanava muita sabedoria de seu olhar e de sua postura. Ele sentiu que ela era muito especial.

Ao final do dia, Aaron, cansado por ter pensado sobre a visão o dia inteiro e tentando lembrar-se de algo mais ou até mesmo do nome da mulher que ele viu, sentou-se na escrivaninha de seu quarto e ficou olhando para os pergaminhos com suas visões. Sem chegar a nenhuma conclusão, pegou algumas folhas novas e escreveu sobre o que vira naquela tarde, contando cada pequeno detalhe para que pudesse ter como encaixar em alguma outra. Em um pergaminho separado, desenhou o rosto da mulher que viu. Ao final do desenho, notou que era bom nisso e também não sabia o porquê.

— Mais um mistério sobre mim, eu sei desenhar, e muito bem. Quando raios vão parar de aparecer mais fatos que desconheço? Bom, acho difícil, vindo de alguém que não tem nem onde cair morto. — Ele não se sentia muito motivado.

Levou-se e deitou-se para dormir. Dessa vez não teve nenhuma visão e pôde dormir bem pela primeira vez desde que acordou na floresta.

Caminho das Fadas - Livro I [DEGUSTAÇÃO]Where stories live. Discover now