Um Nó Corrediço

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Eu sempre repetia aquele trajeto nos dias chuvosos, pois eram extremamente propícios na hora de escrever meus poemas. As gotas de chuva nos telhados, o vento forte soprando como um grito de desespero dos céus, aguçavam meus pensamentos e minha imaginação. Sentado na área de cobertura do meu prédio, olhava para a enorme quantidade dos outros prédios distantes e começava a escrever, sempre fazia isso, principalmente naquela temporada de chuva.
  Naquele dia foi diferente, pois aquele sempre foi meu refúgio, calmo, onde nunca encontrava nenhuma outra pessoa ao redor, mas  enquanto a chuva castigava copiosamente tudo em que tocava, quando subi as escadas, dei de cara com algo que acreditava ser impossível de acontecer. No prédio, ao lado do meu, havia alguém, um garoto que aparentava ter a mesma idade que eu, parado, completamente molhado a céu aberto e olhando fixamente para meu prédio como se visse algo, mas não havia nada lá. Eu Permaneci imóvel no ponto em que estava, estava sem reação, não conseguia entender o que estava vendo e, a confusão na minha cabeça aumentou ainda mais, quando inesperadamente o garoto começou a fazer movimentos perturbadores com a cabeça e as mãos, espasmos que o tornava ainda mais assustador, não sei se ele havia me percebido, mas ele agia como se ninguém mais estivesse ali. A insanidade parecia ter tomado conta dele!

  Subitamente ele parou e parecendo uma estátua de pedra, a cabeça foi se movendo, quadro por quadro, lentamente em minha direção e, mesmo com a chuva cobrindo os olhos dele, tive a impressão de que ele podia ver dentro e além da minha alma. Isso durou cerca de três segundos, antes que ele desse as costas para o prédio e com passos curtos, vagarosamente foi caminhando em direção as escadas, por onde desceu deixando na minha mente uma memória distorcida e embaçada do seu corpo. Eu ainda estava sem reação, meu coração estava disparado, batia desesperadamente, minha mente estava estática, mas meu corpo, involuntariamente começou a se mover em direção ao prédio do garoto, eu não estava pensando em nada, apenas fui atraído até lá, talvez pela curiosidade. Cheguei até a borda que separava meu prédio do dele e fiquei olhando para o lugar onde antes ele estava.

  Naquele dia eu não escrevi, apenas sentei em direção ao prédio vizinho e esperei por horas, na esperança de que ele fosse aparecer novamente, estava absolutamente intrigado com o que aconteceu. Esperei, mas ele não apareceu e por outros dois dias continuei subindo até a cobertura do prédio, apenas para o esperar, mas nada aconteceu, ninguém apareceu. No terceiro dia quando subi, estava decido a fazer algo que me colocaria em perigo, mas eu havia me tornado tão obcecado por aquele momento, por aquela pessoa que nada mais importava.

Ao chegar na borda do prédio, sem pensar duas vezes, pulei para o outro lado e parado ali, bem no lugar onde o garoto misterioso havia estado, eu hesitei, por medo de que alguém pudesse me descobrir, mas ainda assim, criei coragem e com passos silenciosos, segui em direção as escadas, mas assim que cheguei nela, quando olhei para o final, tive a impressão de ter visto algo em forma de borrão passar, mas acreditei que o medo me fez imaginar aquilo e continuei seguindo adiante. Parado na escada, aguardei um momento para tentar ouvir alguma coisa próxima, mas tudo que havia ali, era um corredor com todas as luzes apagadas, exceto pela última, no fim do corredor que piscava Incessantemente. A Luz que vinha da abertura das escadas clareava o início do corredor e sem muitos  esforços já pude notar algo no primeiro apartamento perto de mim que me deixou inquieto, pois ele estava com a porta entre aberta e, no lado direito uma enorme janela de basculantes fechados, que por dentro estava coberto por um tipo de tecido escuro, impedindo assim que fosse possível enxergar algo através dele. Não consegui conter a curiosidade, algo me atraiu naquele apartamento. Desci o restante das escadas com um pouco mais de pressa, mas ao chegar no piso, contive a pressa e me aproximando da porta para tentar ouvir se algum ruído ecoaria por trás dela, mas nada, ainda aquele perturbador e desconcertante silêncio que me dava calafrios, permanecia. Resolvi aproximar-me ainda mais e bisbilhotar um pouco.

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⏰ Last updated: Apr 04, 2019 ⏰

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O Nó do DiaboWhere stories live. Discover now