Apesar de ser o segundo colocado na plataforma, Ricardo era bem mais querido pelos leitores do que Kimberly. Ele apenas não perseguia uma quantidade de fãs a mais como sua concorrente fazia. Não costumava propor troca de leituras nos grupos de leitura ou mesmo no Facebook. Pedir votos ou seguidores então, nem pensar. Suas leituras e votos eram tidos como realmente verdadeiros. Era um crescimento vegetal, diria um estudioso de estatística ou geografia política.

Camata lia aquelas páginas e se imaginava no mundo criado pelo garoto. Ficava pensando como ele poderia ter tido tanta imaginação. Eram fatos estranhos até mesmo para ele que já tinha visto tanta coisa por meio dos cursos e viagens que tinha feito estando na polícia. Descrevia a atmosfera de Marte como se lá estivesse ido coletar pedras e análises do clima hostil daquele planeta. Ele poderia ter conseguido aquelas informações pela internet, mas encaixar os dados e conectar aquilo a trama criada por ele era o que mais impressionava o agente de polícia.

"Que talento... o moleque sabia o que estava fazendo... como alguém pode querer interromper algo tão coerente e fantástico como uma narrativa dessas? Não descansarei até prender este miserável..."

A noite passou e o dia raiou sem que o agente de polícia percebesse que havia passado a madrugada lendo as histórias sobre uma garota tentando fugir de Marte para retornar a uma Terra completamente inóspita e perigosa após séculos da destruição de sua atmosfera.

"Trim, trim, trim... trim, trim, trim... trim, trim..."

– Quem pode ser a essas horas? – Ao abrir a persiana da janela que ficava posicionada próxima à bancada onde estava o telefone ele percebeu que já havia amanhecido e ele nem percebera.

"Camata, precisamos de você aqui na delegacia agora! – Já são mais de nove horas!"

– Tudo bem, Delegado... já estou a caminho.

No caminho para a delegacia o agente ficou imaginando qual a ligação poderia haver entre a primeira morte e a mais recente vítima.

"Os dois eram amigos, apesar de serem concorrentes por mais leituras e votos de suas obras. No início pensei ele pudesse ter matado a Kimberly para se tornar o número 1. Mas agora existe um elo entre os dois... aquele pen drive..."

– Até que enfim chegou. Espero que não tenha voltado às bebedeiras novamente...

– Delegado, não lhe devo satisfação de minha vida fora da delegacia, mas fique tranquilo, estou sóbrio a bastante tempo para poder tirar algumas horas noturnas lendo alguns livros.

– Espero que não resolva se tornar o próximo Best Seller local. – Fiquei sabendo que os concorrentes estão se matando... literalmente...

– Devo dizer que isso não teve graça alguma. Este caso está se tornando mais complicado do que eu imaginei que pudesse ficar.

– Ainda acredita na tese de que foi suicídio da garota?

– De forma alguma. – O senhor estava certo mais uma vez. Foi assassinato. E acredito que aquele pen drive nos dirá muito sobre quem vitimou a escritora do Wattpad.

Enquanto os dois conversavam na sala do delegado Ruiz, o perito criminal que estava a cargo de "quebrar" a criptografia daquele pen drive, entrou na sala e trouxe notícias sobre aquele estudo que ele havia começado dois dias antes.

– Delegado, tenho boas e más notícias.

– Primeiro as boas... – solicitou o delegado, já com um ar de que haveria algo mais para lhe importunar naquela manhã estressante.

– Consegui abrir os arquivos do pen drive. Aparentemente era uma criptografia fraca. Creio que quem a fez queria que ela fosse quebrada, pois é bem simples e de conhecimento de todo hacker iniciante.

O Altruísta - Crimes no WattpadWhere stories live. Discover now