Fitava os olhos sobre a rama verde,
Qual caçador, que após um passarinho,
Correndo, parte da existência perde.
Quando o que me era mais que pai: — "Filhinho,
O tempo" — disse — "que nos está marcado,
Quer mais útil emprego. Eia! a caminho!" —
Voltando o rosto, a passo acelerado
Os sábios sigo e, atento ao que falavam,
Não me sentia, andando, fatigado.
Plangentes vozes súbito entoavam
Labia, Domine, mea por maneira,
ue piedade e prazer me provocaram.
— "Do que ouço" — disse então — "ó Pai, me inteira" —
— "Almas" — tornou — "talvez que o meio tentam,
Que o peso à sua dívida aligeira". —
Peregrinos solícitos que atentam
Só na jornada, achando estranha gente,
Voltam-se apenas, mas o passo alentam:
Tal após nós vem turba diligente;
Em devoto silêncio se acercava;
Olhou-nos e afastou-se prestamente.
Os olhos encovados nos mostrava,
Pálida a face e o rosto descarnado,
Sobre os ossos a pele se estirava.
Não creio que Erisícton devastado
Tanto da fome horrível estivesse
Quando das forças viu-se abandonado.
Eu cogitava: — "O povo aqui padece,
Que Solima perdeu, quando Maria
Carnes comeu ao filho, que perece". —
Cad'olho anel sem pedra parecia:
O que na humana face lesse "omo"
Bem claro o M aqui distinguiria.
Quem crer pudera, não sabendo como,
Efeito de desejo ser, nascido
Do frescor de água, junto a odor de pomo?
Atônito inquiria o que haja sido
De tal fome a razão, não manifesta,
Que tal magreza tenha produzido,
Eis lá da profundeza da sua testa
Uma alma olhos volvia e me encarava,
Gritando: — "Mereci graça como esta?" —
Quem fora o gesto seu não me indicava;
Mas tive pela voz prova segura
Do que o aspecto seu não revelava.
Foi súbito clarão em noite escura,
Do rosto avivou traços deformados
Forese conheci nessa figura.
— "Ai! não fiquem teus olhos assombrados"
— Dizia — "a lepra ao ver que me descora,