Memórias

01

Não tentem me perguntar o que me levou a querer fazer isso. Não vou dizer pra vocês. Os motivos são óbvios, tá aí na cara pra quem quiser saber e que os aceite pelo o que eles são. Sim, quero e pretendo me matar. Como assim vocês estão surpresos? MEU DEUS! Não dá pra perceber pela quantidade de vezes que eu digo ''vou comer isso tudo hoje porque não sei se vou acordar viva amanhã'' ou pelos ''é perigoso?? ok, tô indo.'' ou até pelos trânsitos que eu atravesso sem nem olhar pros lados. Lembram daquela vez que quase aconteceu, sabe perto da igreja, quando a vovó estava nos levando de volta para casa? Lembro como se fosse hoje que eu não senti medo. Bom, eu não entendi a comoção toda mas hoje percebo que puta que pariu, aquele carro deveria ter me atropelado.

Não foi a única chance que eu tive, tenho que admitir, tive várias. Nunca aconteceu pois era sempre ''de raspão'' e depois eu sempre ficava com raiva e xingando dizendo ''por que não atropelou logo, caralho???''. Facilitaria meu trabalho todo, eu acho.

Sabe, eu não faço ideia de como vou fazer isso. Você sabe do que eu tô falando. Meus pais que não sabem, não se finja de inocente. Você nunca quis isso, lá no fundo? Eu tenho essa vontade desde que me lembro por gente, e bem, minha memória é péssima. Quem me conhece sabe. Não lembro de nada direito desde os 12 anos de idade e acho que é uma dádiva. Tanta coisa ruim me aconteceu e que no tempo eu quis esquecer e hoje finalmente consegui esquecer. Mas em compensação, não lembro direito de quase nada que aconteceu na minha pré-adolescência. 12, 13, 14, 15, 16 anos. Tenho quase que flashbacks de 5 segundos sobre esse anos. Foram anos péssimos. Foram péssimos para mim, eu quero dizer. Mas tudo bem, ok, talvez eu te conte tudo e digo logo que não é uma das melhores histórias que você lerá, mas sabe como é, a gente tende a querer escrever quando não tem com quem conversar.

Pois bem. Linha do tempo: tenho 18 anos. Você pode me chamar de... Bela. Sim, é isso. Bela. Gosto desse nome. Ou apelido. Não importa. Lembre de mim como Bela. Atualmente não faço nada. Será que isso me leva mais ainda ao meu suicídio? Talvez. Uns amigos meus ainda estão bem de vida e até trabalhando, eu devo ser fraca demais, né? (Foi uma pergunta retórica!) Mas é isso. Meu suicídio. Talvez você concorde comigo que eu deveria me matar, talvez não, eu realmente não sei. Mas do fundo do coração eu espero que você queira o que eu quero, que no momento é: eu morrer.