Um emprego perigoso

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Só que aquela brincadeira de trabalhar foi se tornando enjoativa, pois tomava todo nosso tempo de ser criança, porque, além da fabricação dos tijolos, desde às cinco horas da manhã, até por volta das onze, depois das quatro horas da tarde precisávamos retornar para empilharmos a produção diária e se ameaçasse chover, seja qualquer hora do dia, da noite ou da madrugada, precisávamos correr de volta à olaria, para cobrirmos tal produção.

E eu já sabia de algo que marcaria para sempre e que estava prestes a acontecer, porém, estava sempre atento, no intuito de alterar este destino do maninho.

Era uma manhã de tempo nublado e não fabricávamos tijolos, participando de uma atividade que eu até gostava bastante, pois fingia de fato estar brincando, enchendo um carrinho com tijolos crus e levando para o forno, onde seria queimado para ficar definitivamente prontos para a construção civil.

Em uma destas tantas centenas de viagens até tal forno, Regis teria ido à minha frente, enquanto eu continuava a encher o meu carrinho e nisso, quando cheguei dentro do forno, encontrei Mauro, um rapaz de seus trinta anos de idade, solteiro, morador da própria olaria, que brincava mexendo nas partes íntimas do maninho.

— Não faça isso que é pecado — reclamou Regis assustado.

— Hoje você está in jejum? — ironizou tal rapaz.

— Filho da puta! — gritei apavorado, deixando o carrinho se despencar para o fundo do forno. — Vai mexer com o capeta!

O maninho se apavorou, tomando ciência do que de fato estava acontecendo e que tal brincadeira era um fato cruel na vida de uma criança.

— Calma — disse o rapaz assustado, porém com sorriso irônico. — Eu só estava brincando.

— Pois arrume um macho pra você brincar! — gritei com lágrimas. — Não cause trauma na cabeça de um inocente.

O maninho se aproximou e eu fiz questão em passar as mãos em seu corpo para conferir.

— Regis, a gente comprou cuecas. Por que você insiste em não usar?

No fundo eu sabia porque ele insistia em não usar. Roupas para ele era apenas um acessório. A usava porque todo mundo usava. Seu corpo, protegido por vestimentas ou não, seria apenas um templo sagrado e em sua inocência, acreditava que todo mundo é puro de coração e respeitará o próximo como a si mesmo.

O rapaz se afastou. Meu irmão José chegou com seu carrinho cheio de tijolos para descarregar e vendo o estrago que aconteceu, perguntou:

— O que aconteceu?

— Meu carrinho caiu lá embaixo — aleguei chorando. — Talvez seja só isso que você vai saber que aconteceu.

— Não precisa chorar por causa disso — protestou ele. — Eu ajudo você a tirá-lo daí.

— Hoje eu não quero mais trabalhar! Eu e o Regis vamos embora!

Voltei-me para o maninho, que estava perdido no tempo e insisti:

— Maninho, tenho tantas coisas que eu precisava lhe contar, mas eu não posso! Queria evita-las, mas vejo que não vou conseguir!

Depois de ajudar meu irmão mais velho a tirar o carrinho do fundo do forno voltamos para casa, onde, principalmente eu, fui direto para o quarto deitar-me de bruços na cama, passando a chorar inconsolável, sabendo de minha incompetência em alterar o destino, muitas vezes cruel.

Dez minutos depois, ainda continuava chorando. Regis entrou, deitou-se ao meu lado e em tom muito triste, abraçou-me pedindo:

— Arthur, pare de chorar. Não aconteceu nada!

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