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Você já viveu um dia de caos? Não é só um dia em que tudo dá errado, mas um dia realmente caótico, com pessoas desconhecidas invadindo a sua casa e lhe fazendo perguntas sem, no entanto, ouvir suas respostas, numa confusão de cheiros de colônia barata e cigarro que faz sua cabeça doer.

Um dia de muitas vozes, muitas perguntas, muitos rostos, nenhuma resposta.

Esse era o dia de Harry.

Sua mãe conversava com um detetive que tinha um bloco nas mãos e óculos na ponta do nariz. A mulher de longos cabelos castanhos semi presos lançou-lhe um olhar e tentou sorrir, para tranquilizar o filho adolescente, mas a preocupação era evidente.

- Você viu alguém seguindo vocês dois nos últimos dias, algum estranho?

Harry olhou novamente para a detetive de cabelos enrolados e curtos que lhe fazia as mesmas perguntas há pelo menos 300 horas. Tudo bem, eram 45 minutos. Harry sempre fora meio exagerado. Mesmo assim, podemos dizer que, numa situação como aquela, aquele caos dentro de sua casa e dentro de sua cabeça pareciam realmente ter começado há mais de 300 horas.

- Não... Não vi ninguém...

Harry respirou profundamente enquanto a moça anotava alguma coisa em seu bloco.

- Conversaram com alguém, um vendedor, uma pessoa no ônibus...

Nesse momento, as vozes na casa pareceram tão altas que Harry achou que sua cabeça ia explodir.

As perguntas se repetiam eternamente sem chegar a nenhum lugar. Parecia Lost!

Foi quando o adolescente de cabelos longos e bagunçados se levantou e gritou, calando todas as vozes ao mesmo tempo.

- Não! Não vimos ninguém! Não falamos com ninguém! Eu já disse o que aconteceu! Zayn não foi raptado por humanos! Ele foi levado por seres invisíveis! Ele estava aqui num minuto e, no seguinte, não estava mais!!! Quantas vezes vou ter que explicar a mesma coisa até vocês, suas topeiras, entenderem o que aconteceu!?

Harry olhou em volta. Cerca de 5 homens, a detetive que tomava seu depoimento e sua mãe olhavam paralisados para ele.

Sentiu-se invadido pelos olhares que pareciam julga-lo louco.

Foi nesse momento que um homem de cabelos castanhos e barba finalmente feita entrou com uma maleta, o olhar preocupado se encontrando com o olhar assustado do garoto.

Harry então correu para o pai como quando era um garotinho e, abraçado a ele, chorou.

Chorou porque ninguém acreditava nele, chorou porque estava assustado, chorou porque seu melhor amigo sumira e chorou, principalmente, porque achava que tudo aquilo era culpa sua.

Cerca de três horas antes do caos, a casa estava em um absoluto silêncio. Os dois garotos estavam na sala cercados por livros, testemunhas mudas e atentas do estranho experimento.

Leram as instruções no bizarro livro de capa preta, acenderam a vela, colocaram perto um copo com água e a fumaça de um incenso de mil flores espiralou por toda a sala, fazendo desenhos e espalhando seu perfume.

Respiraram fundo e se concentraram.

Tocaram os dedos no copo e fizeram a pergunta que dá início a toda a sessão de oui-já:

- Há alguém presente?

Quando o copo se moveu, Harry gritou e quase saiu correndo, se não fosse o amigo a segurar seu pulso e fazê-lo se comportar decentemente.

moon of fairies | larryWhere stories live. Discover now