Capítulo 13 - Penúltimo

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Capítulo 13 - Penúltimo

Hinata finalizou a árdua tarefa de empacotar as roupas de Hanabi e alguns objetos seus que levara para a casa de Naruto. Sabendo de seu retorno próximo das sete horas, gostaria de estar preparada para partir assim que terminasse a conversa com ele.
Como não restava mais nada a fazer, concentrou-se em manter a calma. Os ponteiros do relógio não cooperavam. Cada minuto parecia uma eternidade. As horas não passavam, muito menos os minutos. O tempo parecia mais lento do que o normal, parecia até que estava parado.
Céus, se pudesse apressar o tempo e acabar logo com aquela agonia!
A cena da conversa que teria com Naruto passava e repassava por sua mente centenas de vezes. O modo como deveria falar, as supostas reações, tanto dele quanto dela. Tinha certeza de que não conseguiria conter as lágrimas, elas transbordariam de seus olhos, tão emocionada se sentiria. Acreditava que o desprezo seria a reação imediata. Logo após viria a raiva e a humilhação por ter sido enganado.
Apesar de prever as diversas reações que seriam deflagradas durante a conversa, não conseguia imaginar como iniciaria seu derradeiro martírio. Melhor ensaiar algumas falas para não gaguejar muito na hora crucial.
Não sabia como introduzir o assunto. Tentou se imaginar no lugar de Naruto, quais seriam as palavras que menos o chocariam. Porém, em nada do que pensava parecia diminuir a dor do momento. Não podia ir direto ao assunto, como se fosse uma coisa banal.
Ah, Naruto, tenho uma novidade. Sabia que eu não sou Hanabi? Que estava sendo enganado todo esse tempo?
Não, tudo parecia muito cruel. Mas, então, como dizer a alguém que a pessoa que ele amava não era quem ele pensava que era? Que o seu casamento não passava de uma farsa?
Talvez pudesse aplicar a mesma psicologia aplicada às crianças, ou seja, começaria a contar uma história, trocando os personagens, substituindo os nomes por outros inventados por ela.
Não, aquilo também não lhe soava bem. Seria covardia e sua atitude até agora fora a de uma covarde. Queria evitar pelo menos esse estigma no último momento deles. Era hora de criar coragem e encarar os fatos. Nada de subterfúgios ou de rodeios.
Meu Deus, inspire-me. Faça com que eu encontre as palavras certas para não decepcioná-lo ainda mais,
Olhou para o relógio outra vez. Eram ainda seis e dez da tarde.
Será que os ponteiros não podiam ir mais rápido?
Seis e vinte. Seis e meia.
A cada minuto o coração de Hinata batia mais apressado e seu estômago parecia mais comprimido. Ela rezou para que Naruto chegasse logo, assim sua tortura também não se tornaria tão angustiante. Queria que a confissão acabasse logo, se tivesse que sofrer, que fosse de uma forma fulminante e não demoradamente. Qualquer coisa era melhor do que aquela espera e as incertezas de seu coração.
Diante da janela, Hinata ficou por um longo tempo olhando para a rua. Melhor observar a rua a ficar vendo os ponteiros do relógio arrastando-se.
Era uma tarde típica de verão, a brisa quente deixava o ambiente abafado, as pessoas passeavam calmamente pelas calçadas. Do outro lado da rua, duas crianças brincavam com um cachorro no jardim da frente. Vizinho à casa de Naruto um casal cuidava das plantas e flores. Rua abaixo, um jovem lavava seu carro.
Para todos os lados que olhava, todo mundo seguia sua vida, fazendo coisas simples e normais, ignorando que lá, naquela casa, ela agonizava.
Seis e trinta e cinco.
Hinata suspirou várias vezes.
Calma, tente ficar calma. Logo o carro de Naruto vai entrar na garagem.
Deixando a janela para trás, ela passeou o olhar pela sala, tentando memorizar tudo. Aquela seria a última vez que estaria lá. Naruto a expulsaria de sua vida para sempre.
Lutando contra as lágrimas, olhou para cada objeto e cada peça que compunha a decoração simples e sóbria da sala. Queria guardar em sua memória cada detalhe para alimentar o vazio que seria sua vida a partir daquele dia. Quando a solidão se tornasse insuportável, teria aquelas recordações para suprir a falta de Naruto. Tudo que remetesse à figura de Naruto seria como um tesouro, cuidadosamente guardado em sua mente.
Na estante ficavam empilhadas diversas edições da National Geographic. Um peso de papel em forma de uma pepita de ouro que ele trouxera da Arábia Saudita ornava a mesa do escritório. O porta-retratos com a foto dos seus pais, sorrindo felizes no dia do casamento deles fazia parte do passado alegre de Naruto. A um canto da sala, em sua poltrona preferida de couro o novo romance de James Lee Burke descansava esperando ser ao menos folheado antes de uma leitura mais profunda. E para melhor acomodá-lo, a almofada de crochê decorava singelamente o sofá encostado à parede.
Naruto, se você soubesse como vou sentir sua falta.
O som estridente da campainha do telefone a assustou. Correu para atender, rezando para que não fosse Naruto dizendo que ia demorar para chegar.

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