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Quando tentei abrir os meus olhos, uma pontada forte tomou conta da minha cabeça. A pouca claridade que entrava pela janela do meu quarto era demasiada para a ressaca que eu sentia.

Com esforço, e sem tirar as minhas mãos da minha cabeça, sentei-me sobre a cama tendo flashbacks da noite passada. O sabor que continha na minha boca, agora seca, denunciava tudo o que a minha ressaca não me fez esquecer, deixando-me com água na boca.

Lembro-me de tudo, e como poderia eu esquecer de um dos momentos mais intensos da minha vida? Lembro-me do seu sabor ainda presente na minha boca, lembro-me do seu sorriso e dos seus olhos brilhantes, lembro-me do seu toque no meu corpo e lembro-me que depois de tudo, quando ele me veio trazer a casa, pediu para ficar comigo. Seria demasiado.

Estávamos tao envolventes no nosso momento que as consequências seriam maiores se realmente os nossos corpos se tivessem envolvido, pois as nossas almas já estavam a estragar tudo. Não me orgulho do que fiz, não me orgulho mesmo nada por ter deixado a minha carne ser tao fraca, mas orgulho-me por ter conseguido pensar um pouco no meio de todo aquele paraíso.

Pedaço de paraíso. É tão errado, os braços dele são a coisa mais errada no meu mundo, mas senti-me no paraíso.

Ele deu-me um pedaço de paraíso.

Levantei-me depois de um enorme suspiro, preciso mesmo de um café para acordar e um comprimido para aliviar a minha cabeça. Será que existe algum medicamento para a consciência pesada?

Ainda não acredito que fiz a maior coisa que sempre condenei, fui contra tudo o que sempre acreditei. Será que no final de tudo, isto valeu a pena?

Caminhei até ao meu espelho, pegando num elástico para prender o meu cabelo. Quando vi o meu reflexo, algo em mim estava diferente. Apesar da minha ressaca, a minha imagem não era de uma pessoa acabada, mas sim de uma pessoa viva, mais vida do que nunca. A minha pele brilhava, o meu olhar brilhava, o meu pescoço... merda!

Filho da mãe!

Deveria ficar preocupada por ter uma marca vermelha, feita por aquela boca maravilhosa, mas sinceramente aquilo só me fez sorrir ao relembrar o quão bom foi ter estado com ele. Eu ainda estou bêbeda de sentimento por ele, e se isto realmente não passar?

Peguei no meu telemóvel e fui até à cozinha, sei que estou sozinha em casa porque o Dallas tivera marcado uma noite num hotel todo XPTO e só estariam de volta no final do dia. Espero que a noite deles tenha sido tao boa quanto a minha.

Porquê que eu não consigo parar de pensar nele? Será feitiço ou simplesmente idiotice da minha parte?

Fiz um café e depois de encher uma caneca com aquele líquido castanho, caminhei até ao sofá sentando-me sobre ele, olhando para o nada.

Perdida em pensamentos, o meu peito foi-se afundado. Eu estava certa, nós precisávamos de nos distanciar, mas não valeu de nada porque no fim de contas, acabei por fazer aquilo que tanto tentei fugir.

O Brad não merecia uma traição deste tipo, ele merecia mais respeito da minha parte, mas eu falhei redondamente. Sou tao imperfeita, mesmo quando tento fazer tudo direito.

Não faço nada direito!

O meu telemóvel tocou e isso fez-me acordar dos meus pensamentos. Quando olhei para o ecrã, o meu coração bateu mais forte por ver o nome da causa desta confusão toda.

Limpei a minha garganta e atendi.

- Olá...

- Olá bonequinha, acordei-te? – A sua voz era tao suave, quase parecendo música para os meus ouvidos.

Do Avesso 1Where stories live. Discover now