Prólogo

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Jens Hook estava caminhando por uma longa estrada feita inteiramente de pedras e lama devido chuva que cai do céu. As casas que estavam aos seu lado permaneciam com as luzes apagadas, o dia estava para nascer naquela pequena vila de casas de pedra e palha. Humanos simples.

Jens olhou para céu e jogou uma pedra brilhante ao vasto começo de crepúsculo.

Suas roupas eram totalmente escuras assim como seus cabelos emaranhados. Seus olhos viram a pedra brilhante explodir no céu e pedaços dela caírem sobre as casas. Pedras sendo raspadas juntas podem criar faíscas para o fogo, aquelas eram o fogo vivo. Quando um único pedaço tocou o telhado das casas, as chamas purpuras eram grandes o suficiente para aquecer um país inteiro.

― Tenham bons sonhos ― disse ao sair da pequena vila com certa velocidade inumana. Um sorriso de prazer se esbouçou em seu rosto, do mesmo modo com seu chefe vazia algumas vezes.

O rapaz continha um pouco de felicidade dentro de si, mas era uma felicidade diferente, uma que só ele entendia. Seus olhos se enchiam de alegria ao ver o sofrimento das pessoas, a dor que o fogo iria causar nas pessoas. Só de contar a sensação para seu chefe, seu peito já se estufava de orgulho. Jens pegou a faca que guardava no bolso e a tirou da bainha.

Ele apontou a lâmina para os céus.

Mikael, venha até mim ― disse ele e a adaga brilhou como o fogo que atingiu o vilarejo. ― Eu o invoco ― e cravou a faca no chão com toda força. Um pentagrama de sete pontas se formou sugando o corpo de Jens na mesma hora como areia movediça.

O pentagrama era um portal que o levou para o puro breu, onde ali só havia o anjo de asas quebradas. Seus olhos eram como cristais despedaçados e seus cabelos estavam longos e escuros. Os trapos de roupa que usava podiam indicar duas cores: o branco e o preto. Um guerreiro divergente.

― A chefe vai adorar fazer uma boa negociação com você ― disse Jens com um sorriso malvado.

O guerreiro ferido lançou um olhar de raiva para Jens, como se quisesse matar o homem ali mesmo.

― Sabe que não pode falar nada, por que Immortales conseguiu te vencer ― afirmou com certo desgosto. ― Como pode até o mais exemplar errar de uma forma tão grande assim? Às vezes eu penso que você é uma farsa em meio a todos aquelas verdadeiros, Mikael, você é uma farsa.

O guerreiro ferido ― Mikael ― olhou com dor e medo para Jens, mudando seu olhar da água para o vinho. Ele tinha passado por muita coisa desde que fora derrotado pelos que Quinque Sanguinis, quando tentou fazer Ritual de Purificação. Um ritual com função de limpar a alma de alguém, somente feito por pessoas com poderes divinos.

― Sua irmã foi esperta ― afirmou Jens. ― Ela sabia que se não tivesse todos presentes, ritual não aconteceria. Por outro lado, ela não sabia que Ela poderia usar você contra o mundo dos Esquecidos.

― Você está dizendo mentiras... Os Esquecidos foram mortos. Assim como aqueles que continham o Poder Conjunto. Eles continham e mesmo assim foram levados para trevas, o que impede de algum deles também ir ― respondeu com a voz falha. ― Anael, Florence e Rickel já tiveram suas sentenças e agora estão no Mundo dos Mortos pagando pelo que escolheram.

― Eu não me referia sobre esses Esquecidos em geral, não importa se eles escolheram esse caminho... ― Jens soltou uma risada alta. ― Brilho da Harmonia e Luz da Alvorada fazem parte desse bando.

Mikael pareceu perplexo.

- Estrela da Manhã matou os dois ― retrucou. ― Eles estão mortos e vão ficar mortos no Mundo Inferior, eles não vão sair dali, é impossível, não por vontade própria. ― Mikael se levantou e correntes frias o puxaram para chão novamente. ― Até para um servo de Zachriel, você até que bem burro.

― Não diga isso a mim, Mikael ― vociferou Jens ao segurá-lo pelo pescoço. – Nesse plano você não passa de um pedaço de merda, seu irmão te abandonou, sua irmã se vingou pelo que você fez com ela, a Divindade não pode te alcançar aqui. Você está sozinho aqui, ninguém tem piedade com você.

- Então se sou um merda e ninguém liga para mim nesse grande plano que ela formou... ― ele esbouçou um sorriso parecendo esconder alguma informação. ― Por que me manter vivo nesse lugar, em meio a tanta escuridão? ― Jens ficou ainda mais irado. ― Então, de certo modo, sou especial por ficar me recuperando da falha que cometi ao tentar me salvar das garras dela...

― Cale a boca... ― Jens estava ficando com expressão de raiva.

― E você... meu caro Jens ― disse Mikael com leveza. – O que aconteceu com sua tia Molly mesmo? Ah. Ela morreu assim que você ganhou essa estrela na testa, assim que você virou um escravo Dela... quando você perdeu sua vida. Não sente falta da sua vida? ― os olhos de Mikael voltaram a brilhar e os de Jens ficaram escuros como a noite. ― O cheiro dos cabelos dela. Rosas da primavera. Você sempre dizia que a protegeria, mas durante uma linda noite você a matou a sangue frio para satisfazer seu chefe...

Cala a boca ― as mãos de Jens se tornaram fogo vivo. Ele jogou Mikael com força no chão e chutou seu rosto com mais ferocidade. O fogo de cor purpura começou a se espalhar pelos seus braços. A estrela em sua testa queimava como o fogo em suas mãos. ― Não fale sobre minha tia, o nome dela não merece estar em sua boca, seu desgraçado.

Uma bola de fogo purpura se formou em sua mão esquerda e jogou com toda força no corpo de Mikael, onde, instantaneamente, explodiu em chamas e gritos. Jens olhou para cena com prazer, nunca tinha sentido tal sensação na vida como naquele momento. Quando as chamas cessaram o corpo de Mikael estava irreconhecível, as asas já não existiam mais além dos nervos carbonizados, a pele estava negra como piche. Os cabelos já não existiam mais.

Uma voz ecoou da escuridão.

- Por acaso eu disse para você machucar nossa única testemunha?! – A voz estava irada, a raiva que a voz transmitia era possível de ser sentida na pele. – Não!

Jens foi puxado pelos calcanhares por linhas escuras, como grandes tentáculos.

― Desculpe, senhor ― disse Jens no desespero. ― Eu não queria, ele me irritou...

Não há desculpas... ― As sombras puxaram Jens para longe em meio a escuridão.

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