25 | Quero pintar você

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- O homem que não lê não tem mais mérito que o homem que não sabe ler - ele deu de ombros outra vez, fazendo pouco caso.

Franzi as sobrancelhas.

- Essa frase me é familiar - cocei a cabeça. - Eu já ouvi em algum lugar.

- Mark Twain.

- O quê?

- É um escritor - ele esclareceu. - A citação é dele.

- Ah.

Deixe o livro de lado, assim como havia feito com a xícara, e um silêncio pesado se instalou no ambiente. Apertei meus dedos, nervosa.

- Me desculpe - falei por fim.

- Achei que não fosse pedir desculpas.

Dei de ombros, relaxando os músculos ao escutar sua voz, agora, mais leve.

- Me desculpe por ter pedido desculpas, então.

Hunter riu, tocando meu joelho com o seu.

- Eu tenho uma ideia - ele se virou no sofá para me encarar. Fiz o mesmo. - E se, toda vez que você sentir a necessidade de suprir algum vazio com a bebida, eu te conceder três respostas?

- Não sei se vou ter criatividade o suficiente para tantas perguntas - ri, não sendo acompanhada pelo moreno.

- Eu posso te dar três respostas sem que você precise perguntar.

- Então você não vai estar me respondendo, vai estar me contando.

Hunter sacudiu as mãos.

- Tanto faz, cacete - ele se sentou de frente outra vez. - Foi uma ideia idiota.

Ele passou as palmas das mãos sobre as coxas, alisando o jeans escuro. Ele parecia... envergonhado? Oh, é claro. Acho que, assim como a minha vergonha, inexplicável, em demonstrar arrependimento, Hunter tinha vergonha em demonstrar, mais do que tudo, cuidado.

Bom, estávamos quebrando barreiras.

Toquei seu ombro, atraindo seus olhos.

- Eu gostei - falei, analisando o canto dos seus lábios se erguerem discretamente com a minha declaração anterior. - O mesmo serve para você.

- Combinado.

Sorri.

- Podemos começar agora - sugeri. - Eu estava bem tentada a aceitar a vodka que o Zach me ofereceu.

- Ele é um merda - Hunter tensionou o maxilar, parando de sorrir para apertar os dentes com força. - Ele não sabe, não é?

Neguei com a cabeça.

- Vamos lá, três coisas - incentivei, querendo deixar Zach, e os assuntos que o envolviam, para lá.

O moreno ficou alguns minutos em silêncio, pensando. O observei por todos esses minutos. As madeixas espessas e escuras, os cílios volumosos que ficam sobre os olhos mais azuis que já vi em toda a minha vida, o maxilar e, Deus, sua boca avermelhada bem desenhada.

Merda. Até mesmo o nariz dele era perfeito.

Ele deve ser a personificação da luxúria.

- Odeio que fiquem me encarando - ele continuava sentando para frente, no entanto, sua cabeça descansava no encosto do sofá, levemente inclinada em minha direção. - Primeira "resposta".

Dei um sorriso tímido por ter sido pega no flagra, porém, me recompus rapidamente.

- Gosto de te observar.

O moreno sorriu, molhando os lábios.

- Não estou com vontade de fumar - ele disse. - Não preciso das suas "respostas" agora.

Rolei os olhos.

- E você não precisa fazer aspas com os dedos toda vez que falar "resposta" - fiz aspas com os dedos. - Como eu fiz agora.

- Sinto vontade de me enterrar em você toda vez que você revira os olhos - ele soltou de repente, seu tom de voz casual.

Quase engasguei. Quase.

- Desejo que você se enterre em mim toda vez que você fala assim - contra-ataquei.

Ele semicerrou os olhos.

- Não estou com vontade de fumar - repetiu, sério.

- Certo. Tudo bem - respondi, tentando conter o calor que já se alastrava pelo meu corpo.

Apenas ficar do lado dele me fazia queimar, a excitação rastejando sob minha pele.

O moreno fugiu do meu olhar e engoliu em seco antes de dizer:

- Quero pintar você.

Certo. Agora engasguei. Tossi duas ou três vezes, me recompondo.

- Isso não foi sexy, se essa era sua intenção - apontei. - "Quero esfregar meu pau em você" soa melhor. Ainda estranho, mas melhor.

Hunter virou seu rosto em minha direção tão depressa que temi ter que o levar para o hospital por ter deslocado o pescoço.

- O quê? - Dessa vez quem engasgou foi ele. - Meu Deus, não.

E então ele explodiu em gargalhadas. Riu tanto que se curvou para frente, uma mão na barriga e outra no joelho. Empurrei seu ombro, irritada com sua atitude e, quando ele não parou de rir, me levantei do sofá para ir embora. Não dei mais que um passo antes dele agarrar meu pulso e me puxar em sua direção, fazendo, dessa forma, com que eu caísse em seu colo.

- Eu pinto, Alyssa. Quadros - ele esclareceu. - Quero pintar você - suas mãos agarraram minha cintura quando me ajustei melhor em cima dele, o montando. Seus olhos vasculharam meu corpo e, quando encontraram meu rosto novamente, tive certeza de que o fogo em seus glóbulos não era o reflexo da cor da minha vestimenta. Ele também estava queimando. - Quero pintar você nesse maldito vestido.

Crossroad (EM REVISÃO) Where stories live. Discover now