Capítulo 4

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Mila

O meu telemóvel assustou-me com a sua vibração e quando notei era a foto de Diria que preenchia o meu ecrã.

- Mana, estás bem? – Disse e levei o meu copo a mesa de centro.
- O que se passou na festa?

Aquela pergunta me fez reviver aquela maldita festa em um segundo. Mas quem falou com ela sobre isso? Eu? Não me lembrava de nada disso! Enviei uma mensagem a minha irmã naquela noite? Bem, lembro-me de ter pedido a chave ao Miguel entre soluços e ter desligado o meu telemóvel em seguida.
– Aconteceu alguma coisa, isso eu sei! Porque até o teu namorado teve a coragem de ligar para mim perguntando se tenho notícias tuas.

Quando ela disse isso, meu subconsciente imaginou o meu Antiquado sem coragem de ligar para alguém e disse para mim mesma "não" o Paulo não precisa de coragem. Mas sim, as vossas birras que não terminam.

Thomson não sabia nada disso. Só restava Patrícia.

- Por favor, mana, está tudo bem. Naquela noite recebi uma péssima notícia sobre um ex colega da universidade. Me isolei um pouco e Paulo ficou preocupado. – Menti pra ela.
- Ok!!! – Ela disse triste. Talvez desejava que a culpa fosse do Paulo.
- Patrícia e Telma? – Ela questiona.
- Estão bem, saudades. Como estão? – Digo e agradeço a conversa por ter mudado de rumo.
- As crianças só falam de você, adoraram o presente. Mas querem você aqui.
- Imagino. – Digo convencida de que, a minha família adora-me.

Quando Diria desligou a chamada, Patrícia estava num sono profundo num dos sofás do hotel. Roubei-lhe o pacote de batatas e fui até a janela. Estávamos no sexto andar, dava para observar muita coisa e pensar.

Huíla- Lubango, era uma cidade calma diferente de Luanda. O hotel está situado no centro da cidade, mas ainda assim há uma calma incrível, um barulho suportável de abrir as janelas. Apenas alguns carros sobre o asfalto, e motas de um lado para o outro. A falta de engarrafamento oferecia a inexistência de fortes buzinas.

Mas Luanda é a Província que eu amo, e lá está o meu antiquado, Paulo Rodrigues.
A sua reciprocidade, o seu carinho, a sua língua admirando o meu corpo como se fosse a primeira vez a cada sexo, a cada foda e a cada investida lenta de amor. Quando notei, já não estava a pensar na província da Huíla. Estava afogada na saudade. Nunca pensei que conseguiria entrar tão fácil na vida dele, ele cedeu tanto por mim. Como não amá-lo? Porra, tenho saudades.

Mas, será que não mudei nada? Será que só ele mudou e eu continuo a mesma? Eu preciso aproveita-lo e não passar meu dia ouvindo e acreditando sobre o seu passado. Jesus, como não consigo?

Olhei para o meu incrível anel, e lembrei do meu Lobo feroz na cama, antiquado no cavalheirismo, amável e possessivo naquilo que ama.

Tudo o que ele já provou até agora, me faz esperar com unhas e dentes sofrimento que ainda está por vir. Quando lembrei que já era o terceiro dia aqui. A minha felicidade adormeceu e deixou a saudade despertar.

Olhei para fora tentando reduzir a saudade. Alguns comerciantes fechavam já as suas lojas, poucos carros e motas abandonavam a paragem próximo do hotel. Ignorei tudo aquilo e olhei para a tela do meu telemóvel. A fotografia de ecrã era Paulo olhando para mim, ignorando a câmera, ainda bem que nesse dia não notei, se não, ficava toda corada com aquele olhar escuro que nunca consegui decifrar ao certo. Mas dava para reparar o seu cabelo preto e ondulado, a sua mão que carrega aqueles dedos maravilhosos que sabem alcançar perfeitamente o céu da minha pombinha. Ainda não consigo não ficar boquiaberta só de estar perto dele.

Mas não era aquela gênesis da barba não feita, o que me encantava era a sua determinação, como a sua mente procura a perfeição para fazer as coisas. E o coração maravilhoso que ele acha não existir...

Dois estranhos que terminam em 69Onde as histórias ganham vida. Descobre agora