Epílogo

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- Filha, não pode fazer isso. – Minha mãe continuou dizendo atrás de mim. Arrumei a última mochila e a coloquei nas costas, tentando ignorar sua insistência.

- Claro que posso. – Não me virei para encara-la. Arrumei todos os brinquedos da Anne em uma caixa e peguei sua gaiola com firmeza. Ela ficou imóvel, com o balançar da gaiola. Virei-me e vi minha mãe com uma expressão preocupada.

- E a faculdade? Seus estudos? Você vai ficar para trás e você sabe o quanto isso pode prejudica-la no futuro. – Disse novamente, pela quarta vez aquela semana. Fui para o corredor e minha mãe me seguiu como uma sombra.

- É só um ano. Sou inteligente, não ficarei para trás. – Desci a escadas com cuidado e com a caixa apoiada no meu quadril.

- Mesmo assim. Isso é um plano muito irresponsável e arriscado. Não posso deixa-la jogar todo o que construirmos para que possa sair pelo mundo como um sem teto. O que as pessoas vão dizer quando souberem que você deixou de ir para Harvard por causa de uma viagem de férias com seu namorado?

       Revirei os olhos com seu comentário. Precisei deixar a gaiola no chão para que conseguisse abrir a porta da frente. A luz da tarde me fez franzi a testa.

- Elas vão dizer: Nossa que garota corajosa e esperta. – Rebati, fazendo-a bufar. Olhei para o Glann, que arrumava suas coisas na mala do carro, ele correu para me ajudar, evitando o olhar assassino que minha mãe lhe enviava.

        Ele pegou Anne e a caixa e os colocou no capô do carro preto. Retirei minha mochila e entreguei para o Glann, me livrando do peso.

- Gina, não faça isso, por favor. – Pediu, pegando meu braço e me fazendo encara-la. Seus olhos azuis demonstravam preocupação e impotência. Não sei se é pela minha viagem ou por eu ter recusado a carta de Harvard e de todas as outras faculdades.

- A senhora ainda não entendeu? Eu preciso fazer isso, nós dois precisamos fazer isso. – Apontei para o Glann, que ficou em silêncio nos encarando. – A faculdade e todo o resto podem nos esperar no próximo ano, os estudos, o estresse, os professores arrogantes, a competições, os trabalhos exaustivos e todo o resto podem esperar. Mas isso, isso que estou fazendo por mim, apenas para mim, não pode. Então apenas aceite minha decisão mãe, uma vez na vida, escute a sua filha.

       Ela perdeu as palavras, pela primeira vez, ela não sabia o que dizer. Desde que anunciei que não iria à faculdade para tirar um ano sabático, ela parecia desnorteada e perdida. Eu não gostava de vê-la daquela forma, Greta Foster é uma mulher forte e independente, uma guerreira e minha mãe. Porém, chegou um momento em que deixei de realizar seus desejos e me foquei naquilo o que eu queria e isso a deixou, confusa.

- Irei ligar. Se decidir falar com a sua filha, é só aceitar a minha chamada. – Olhei para o Glann e o vi colocar Anne no banco de trás, ele parece ansioso para pegar a estrada. – Eu preciso ir. – Me aproximei lentamente e lhe abracei. – Obrigada. – Murmurei em sua orelha, deixando-a tensa. Beijei sua bochecha e lhe dei as costas. Entrei no carro e me sentei ao lado do Glann, ele me olhou por alguns segundos antes de ligar o carro e deixar nossa rua. – Isso foi mais difícil do que eu imaginei. – Sussurrei para ele.

- Eu sei. Meu pai precisou prender minha mãe no quarto para que eu pudesse sair de casa. – Ele franziu a testa, me fazendo sorrir um pouco. – Você está bem? – Perguntou com suavidade, sua mão foi para minha coxa exposta. Seus dedos acariciaram minha pele e senti um leve arrepiou com seu toque.

- Estou. Estava ansiosa por esse dia. – Confirmei, segurando sua mão e observando as casas passarem rapidamente.

       No caminho, deixamos Anne na casa da Margo. Uma garota de dez anos que dei aulas de reforço no começo do último ano. Ela prometeu cuidar da Anne até eu voltar para busca-la. Ela me ligará uma vez por semana e me mandará fotos sempre que puder. Eu não queria deixa-la, mas uma viagem dessas pode ser estressante para ela. Foi difícil me despedir, mas Glann foi firme e me colocou dentro do carro e seguimos viagem.

       O sol já estava se escondendo no horizonte, quando chegamos ao posto de gasolina na estrada deserta e quase nunca usada para sair da cidade. Deixei o carro, sentindo o vento forte tirarem meus cabelos do rosto.

- As princesas estão atrasadas. – Disse a voz firme saindo da loja de conveniência velha. Glann riu e sentou no capô do carro. Analisei o Chris segurando varias sacolas plásticas, óculos de sol e chupando um pirulito.

- O que está fazendo? – Questionei, apontando para as sacolas.

- A senhora Davis precisava de ajuda. – Apontou para uma velhinha em um carro um pouco distante. Ela acenou na nossa direção e franzi a testa sem entender o que estava acontecendo. – Já volto princesas. – Avisou, sorrindo de modo malicioso e mordendo o cabo do pirulito.

- Já o mandei parar com isso. – Glann chamou minha atenção, e me aproximei dele.

- Ele só está zoando você. – Me apoiei em suas pernas firmes e o puxei para um beijo. Ele me recebeu de bom grato, e enfiou as mãos nos bolsos traseiros do meu short jeans. Interrompi o beijo quando escutei o Chris se aproximando. Virei-me para encara-lo e o encontrei segurando apenas uma mochila grande. – Você só vai levar isso? – Questionei surpresa.

- Claro, eu compro outras coisas no caminho. – Deu de ombros, retirando os óculos e tirando o pirulito da boca.

- Quem é a senhora? – Perguntei curiosa. A mulher deixou o posto lentamente.

- Ela me deu uma carona. Precisei fugi pelo jardim quando meus pais descobriram o meu plano. Ela foi gentil em me trazer até aqui. – Riu contente com a fuga. – Vocês estão prontos?

- Estamos. – Glann colocou meu cabelo atrás da orelha e confirmei com um aceno.

– Ótimo, porque eu estava pensando seriamente que as duas princesas iram desistir no meio do caminho por medo. - Glann bufou, arrancando um sorriso satisfeito do Chris.

       Glann está virando um alvo fácil nas brincadeiras do Chris. Compramos alguns lanches na loja de conveniência velha antes de seguirmos viagem ao litoral. Estou ansiosa para ver o mar, sentir a areia entre meus dedos e respirar de verdade.

- Acho melhor irmos embora logo, não duvido nada que os seguranças particulares da minha família estejam atrás de mim. – Chris declarou me fazendo sorrir ao imaginar vários homens de preto correndo por toda a cidade atrás do Chris. Glann também gargalhou e zombou, Chris revirou os olhos, mas também riu da piada. – Isso pode ser engraçado, mas eu não estou brincando.

       Paramos rapidamente, reparando na seriedade em seu olhar. Com rapidez, entramos no carro e seguimos pela estrada vazia, para bem longe daquela cidade, para longe de tudo e de todos.

       Estou bastante empolgada com a minha nova vida e pelas aventuras ao lado das pessoas mais importantes para mim. Meu coração acelera e meu corpo anseia pelo mundo, por viver e aprender. E quanto mais nos distanciávamos daquela cidade tóxica e sufocante, mas eu via o quanto minha escolha estava certa e o quanto eu tinha sorte pelo doce destino ter colocado o Christian MacTerry em meu caminho. Mesmo não sendo ele o meu primeiro amor como eu pensava, foi por causa do Chris que abri os olhos e consegui enxergar meus verdadeiros sentimentos pelo garoto incrível que sempre esteve ao meu lado, de como tudo aconteceu para que pudéssemos enfim ficar juntos, que tudo aquilo não era apenas uma amizade de longos anos e sim, um amor surpreendente que me conquistou inteiramente e intensamente.

       Querido, doce Destino.

       Obrigada por tudo.

~ FIM ~

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