"meu início[...]"

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Eu sempre fui apaixonada por cores, tinta, papel, lápis de cor, nunca esteve em falta em meu quarto desde pequena. Meu pai era cego, ele sempre tocava em meu desenhos e dizia que podia sentir a beleza e a pureza exalando deles. Eu nunca entendi aquilo. Afinal, ele não podia ver, como ele sabia que aquilo estava bonito?

Então em uma noite chuvosa, ele se aproximou de minha mesa – onde eu desenhava - e disse que meus desenhos estavam ficando cada vez mais bonitos, foi quando eu resolvi perguntar à ele algo que eu não conseguia calar dentro de mim. Uma criança tão pura e inocente.

— Papai, como sabe que eu desenho bem se você não pode ver? – meu tom de voz era calmo e curioso enquanto encarava o homem alto parado ao meu lado.

— Filha, eu nunca precisei ver para sentir o seu esforço nisso,  eu nunca precisei ver a forma como sorri quando está pintando, eu simplesmente sinto. – Ele sorriu tocando meus fios de cabelos negros na época. — A beleza vai além do que podemos ver, nós podemos também senti-la. É algo além do material é algo que vem da alma.

É claro que quando criança eu não havia entendido bulhufas do que ele tinha dito, mas claro que assenti um tanto confusa antes que ele se retirasse do quarto. Tudo começou quando eu completei meus dezenove anos prestes a começar minha faculdade de artes visuais.

Eu desenvolvi problemas sérios em minha visão resultando em perda total da mesma, eu comecei tentando usar óculos de grau, aquilo adiantou no começo. Com o tempo eu acabei criando dificuldades para ver as cores e até mesmos o traços que eu mesma fazia. Nessa época, eu conheci Jeon Jungkook. Eu

JungKook foi meus olhos, minha visão, sempre quando eu precisava ele estava lá, me ajudando, principalmente na parte da adaptação. Mas, eu odiava aquilo.

Odiava me sentir tão incapacitada, e principalmente odiava o fato de nunca ter visto seu rosto de forma detalhada. Tudo o que eu vi de JungKook foram os fios rosados que tanto me chamaram atenção desde o dia que ele me ajudou. Eu odiava tanto isso.

Eu sequer conseguia pintar, chorava noites seguidas pensando em como todo o meu esforço e amor pela arte havia sido jogado fora como um grande e miserável nada, eu era tão inútil e fraca. Eu sequer conseguia me levantar da cama sem lembrar de como era lindo olhar através da janela e ver o sol nascendo.

Eu me lembrava das noites que passava em claro apenas sentada na janela, encarando as lindas estrelas e a lua. As cores das tintas que usava estavam sempre presentes quase todas as minhas peças de roupa. Agora tudo o que eu tinha era a breve visão do vazio, coisa que foi tomando conta de mim cada minuto que em que eu respirava.

Eu perdi minha essência.
Perdi minha vida e a vontade de vive-la, não fazia sentido continuar quando eu já estava morta.

Eu estava morta, eu apenas me movia e fazia as coisas do meu dia-a-dia, mas eu não vivia, minha respiração se tornou um peso, assim como eu.

Eu só tinha minha mãe, meu pai veio a falecer quando completei dezesseis anos de idade, então eu acabei me transformando em um fardo pra ela, apenas existindo e sendo tratada como uma boneca. Cada dia se passava e eu ficava cada vez pior me sentindo apenas um fardo para mim mesma e para minha família.

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