"Una Zona!"

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Antes que você me corrija e diga que eu errei o título deste capítulo, lhe afirmo que ele está correto: Una Zona!

Quando cheguei no meu limite na multinacional em que eu trabalhava a noite, resolvi falar diretamente com o gerente francês da empresa. Se alguém poderia me ajudar, na minha mente seria ele.

Assim, quando encerreu meu turno, em vez de ir embora no ônibus junto aos meus companheiros de trabalho, eu fiquei na portaria aguardando dar 8 horas, quando eu sabia que o citado gerente começaria a trabalhar.

Quando o horário chegou, eu falei com o guarda da portaria que eu precisava falar com o gerente geral da empresa.

Ele ligou para dentro da firma e me disse, após quase meia hora, que o responsável não poderia me atender.

É claro que eu não aceitei aquela decisão!

Aguardei o momento exato em que o guarda deu um vacilo e quando ele percebeu, eu já estava sentado numa cadeira, na mesa do gerente da empresa.

Após algum tempo, o citado chegou e se sentou em minha frente. Ele era alto, um francês que não falava o português corretamente, somente arranhava o espanhol.

Expliquei para ele a minha situação, de que não conseguia mais dormir bem durante o dia, de que queria estudar a noite, de que o serviço estava ficando perigoso para mim, que me sentia doente e lhe pedi desculpas por invadir a empresa daquela forma, mas eu estava ficando desesperado.

Ele me ouviu pacientemente e me disse no final, de uma forma que eu entendi, apesar do seu espanhol enrolado:

*Senhor Joel, quando tu não vens ao trabalho a noite, o serviço fica "Una Zona!" Preciso do senhor neste turno noturno, tenha paciência.

Eu já estava treinando outro rapaz, que logo conseguiria dar conta do trabalho, então lhe disse isso e lhe pedi que, caso não pudesse me alterar de plantão, que me mandasse embora.

Ele reiterou o pedido de paciência, algo que eu já não tinha mais.

Naquela mesma semana, faltei mais três dias seguidos, e na sexta-feira, não me deixaram entrar na empresa e pediram que eu voltasse com o ônibus.

Meu encarregado sorria como um abutre, feliz por ter encontrado a melhor peça de carniça do lixão, mas quem sorria por dentro era eu.

No fim, esse não desta multinacional foi o que me obrigou a seguir em frente e acabar parando na empresa de papelão, onde vim a me tornar torneiro mecânico, e o resto da história você já conhece.

Eu penso que, caso o gerente francês tivesse enxergado o potencial que eu tinha naquele dia, pode ser que até hoje eu ainda trabalhasse naquela empresa, com certeza realizando muitas outras funções, quem sabe até estudando muito e me formando, vindo a progredir em outros campos.

Contudo, eu estava fadado a passar ainda por inúmeras aventuras, as quais moldariam o meu caráter e me tornariam uma pessoa melhor.

Quando saí da empresa, peguei uma boa grana, o salário lá era alto, mas em vez de comprar um teclado, que era algo que eu estava paquerando já fazia um tempo, resolvi com esse dinheiro fazer algo totalmente inesperado para minha família: me casar!

Esse foi um dos outros vacilos (e dos grandes) da minha existência, mas neste livro eu não pretendo entrar neste campo, ainda não, tentando me ater ao meu mundo profissional.

Resta dizer que eu escolhi meu próprio caminho, não posso me arrepender dele, pois ele me levou a entrar num emprego do qual tenho muito orgulho, o qual desempenho até hoje, e vejam só, quem diria: trabalho muito com computadores! Talvez até mais do que eu queira...

Lembram que esse era meu sonho antigo: trabalhar num PC? Pois hoje eu o faço 8 horas por dia, mas o caminho no setor público que me levou até esta função que desempenho hoje é digno de mais alguns capítulos neste meu livro.

E qual seria a mensagem deste capítulo onde fui ter com o gerente da multinacional?

Que acha você?

Pois é! Eu diria que neste capítulo eu demonstrei uma das minhas qualidades que mais aprecio: a coragem!

Sem ela eu jamais enfrentaria os desafios que tive na minha vida. E pensando nisso, antes de entrar no mundo profissional que me levou aos PCs, eu preciso fazer uma singela homenagem no próximo capítulo para a pessoa mais corajosa que eu já conheci na vida e que foi a minha grande fonte de inspiração.

Mas antes, é claro que eu tenho que lhe perguntar: você já teve que buscar coragem dentro de você, onde nem sabia que ela existia, para tomar uma decisão importante na sua vida?

Pois é, tenha coragem, meu amigo, a vida engole aqueles que não a tem!

Orgulho de ser EU!Onde as histórias ganham vida. Descobre agora