uma mulher com uma mulher

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PARIS – 1928

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PARIS – 1928

Sidonie era a única pessoa no qual eu sabia que podia contar sempre.

E eu a amava mais do que tudo.

Minha irmã mais velha descansava próxima a janela, com um olhar distante, lábios comprimidos e aconchegada em um manto vermelho que não era de nossa casa. Ao lado de fora a chuva caia. Já estava fraca depois de horas despejando-se nas ruas empoeiradas de Paris.

Moravamos em Roquette acima do Sena ao leste da cidade. Era uma construção grande, de quatro andares e vários quartos, mas desde que chegamos aqui eu não deixava de me sentir sozinha e ser inundada por saudade de Montmartre ao menos por um dia. Sentia falta de acordar com o canto dos artistas, de escutar o bonjour do padeiro, as risadas das dançarinas que voltavam para casa atravessando nossa rua. Sentia falta de me sentir feliz.

Sidonie também. Ela sempre olhava para Montmartre. Por mais que não conseguisse ver muito além de nosso quarteirão por nossa janela seus olhos buscavam o moinho do Moulin Rouge.

Seus olhos buscavam Bettine.

E eu sabia que além de todos aqueles prédios Bettine a buscava também. Desde que Sidonie havia retornado do Hospital Psiquiátrico as duas não haviam se visto. Minha irmã nunca havia me dito, mas eu sabia que ela mau dormia com a esperança de que sua amada aparecesse embaixo de sua janela gritando juras de amor para que toda Roquette soubesse do amor delas. Porém era perceptível que quanto mais o tempo passava a esperança espairecia de seus olhos e cada vez mais a melancolia tomava mais uma vez conta de seu corpo. Eu temia que tudo acontecesse de novo.

Era uma pena. Sidonie era bonita. Com seus cabelos escuros cortados em um curto chanel, olhos castanhos, pele clara e lábios vermelhos era possível fazer com que qualquer rapaz de Saint-Germain caísse aos seus pés. Vários já haviam caído. Em nossa estante havia uma prateleira apenas para as flores que ela recebia. Na cozinha, um armário guardava seus chocolates. E em seu quarto, uma gaveta guardava todas as cartas de amor destinadas à ela — exceto as de Bettine, essas estavam guardadas em uma caixinha em cima do guarda roupas, e claro, em seu coração.

Ela se remexeu, desconfortável, e cravou os olhos brilhantes em mim de maneira quase maliciosa. Eu atirei-me para trás no sofá, apenas esperando a frase geniosamente apavorante que ela iria dizer.

— Quero sair. Sair para dançar! — Sidonie exclamou.

— Para dançar? Papai vai finalmente nos matar. Ele disse com clareza para que ficássemos em casa hoje.

Ela deu ombros.

— Não lembro de me importar com as ordens de nosso pai.

Sim, Sidonie não se importava. Eu não disse nada, mas todos nós sabíamos o que havia acontecido da última vez que ela havia desobedecido nosso pai. Ninguém precisava lembrar, ao menos não em voz alta, porque secretamente as lembranças mais vividas que eu tinha eram do dia em que a tiraram de meus braços, arrastando-a para aquele hospital. Eu vi o desespero em seus olhos, mas também o alivio, no fundo minha irmã sabia que desfrutaria o mínimo de liberdade possível longe de nosso pai. Mesmo que para isso tenha pagado um preço tão alto.

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⏰ Última atualização: May 19, 2019 ⏰

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