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No buses

Seul, 24 de dezembro de 2012

Fechei a gaveta da caixa registradora e encarei o restaurante vazio, a iluminação amarelada, as mesas e cadeiras de plástico, a pintura creme descascando nas paredes e alguns quadros de gravuras penduradas de gosto questionável que só tinham o papel de indicar que o restaurante era chinês, mesmo que o cheiro forte denunciasse, pois o exaustor da cozinha era mais velho que o Sr. Lee, coitado. Tudo bem deprimente, mas só ficava mais deprimente por que hoje era véspera de Natal e eu estava sozinha.

Eu menti pra minha mãe. Eu não tinha prova na semana que vem, eu só não tinha dinheiro para comprar a passagem de trem e não queria pedir para ela, pois sabia que ela também me daria uma quantia que não possuía. Eu gastei todo o meu salário com as inscrições para as provas das universidades e com o aluguel do quartinho em Itaewon que era bem mais ou menos, mas era o meu "padrão", ou seja, o que conseguiria pagar. Não tinha sobrado muita coisa além da passagem de ônibus para fazer o clássico trajeto casa-trabalho. E era isso.

Mas eu já estava plenamente conformada. Essa tem sido a minha rotina solitária – casa-trabalho, trabalho-casa . E o Natal, nos último anos, nunca me deu muitos motivos para acreditar que essa deveria ser uma data especial. Sempre fomos eu e minha mãe, uma noite para que jantássemos juntas, minha mãe bebesse bastante e terminasse a noite esperando pelo meu pai — mesmo que ela não dissesse, eu sabia que sim— quem, por razões mais que óbvias, nunca voltaria. Afinal, o movimento de "voltar" supõe "ter ido embora", ou seja, que ele tenha estado ali algum dia. O que nunca aconteceu já que, repito, sempre fomos nós duas. Desde sempre.

Mas não culpo minha mãe. Todos nós, mesmo que inconscientemente, mesmo o mais céticos dos céticos, esperamos por um milagre natalino daqueles saídos das telas da TV, dos desenhos brilhantes em que a neve parece reconfortante e feita para casar com luzes brilhantes e com a decoração vermelha e dourada. Ah, Natal e a tal mágica natalina, bem eficiente quando se trata de agitar o comércio em seu propósito puramente capitalista. Afinal, a mágica geralmente vem acompanhada de um presente, o que eu também não ganharia. Assim, resta pouca mágica para mim.

— Miyoung, leve um pouco de lámen e frango para o Natal da sua família...— Lee sunbaenim ofereceu simpático quando fui à cozinha me despedir. Não mencionei que não passaria o Natal em "família", pequeno detalhe, mas aceitei agradecida, pois aquela comida me salvaria pelos próximos dias (pense numa geladeira vazia, visualize a minha).

Passei pelos fundos do restaurante e senti o contraste de temperatura, já que do lado de fora congelava e o vento fazia questão de invadir todas as frestas do meu casaco. Não tive outra escolha senão procurar pelo cigarro e pelo isqueiro em minha bolsa como uma tentativa de me aquecer.

Café com Suga • Min YoongiWhere stories live. Discover now