Eu respirei fundo. Eu e minha tia fomos embora, e eu fiquei acariciando minha cabeça até dormir naquela noite.

Na semana seguinte, tínhamos outra consulta, em outro médico. Era cansativo...

Naquele dia, um homem desconhecido nos levou para a consulta em seu carro. Me lembro de me sentir empolgado pois ele olhou para o banco de trás e falou comigo. Perguntou como eu estava, e sobre os estudos, e ninguém nunca me fazia perguntas assim, então... Eu não estava acostumado a falar. Ele me pediu para chamá-lo de Kim, ou Sr. Kim. Com ele, descobri que gostava muito de falar.

Pelo retrovisor, eu também descobri que minha tia estava com uma expressão raivosa por causa do nosso papo. Ela realmente odiava minha voz.

Nós fomos ao médico mais uma vez e eu fiz o que sempre fazia. O doutor me olhava e dizia para minha tia que aquilo era desnecessário; que a frequência a qual eu tinha consultas era inadequada. Eles me tiravam da sala para conversar. O moço que estava nos acompanhando, que mais tarde descobri ser o marido da minha tia, ficou lá dentro com eles.

Depois disso... Durante todo o caminho de volta para casa, nós fizemos silêncio. Mesmo assim, eu me sentia feliz, porque contei sobre as atividades que fiz para o Kim, e isso me fez valorizá-las ainda mais... Durante o jantar, antes que eu desse a última colherada em minha comida, minha tia virou a cabeça para mim e me mandou ir para meu quarto. Imediatamente. Como sempre, eu não terminei de comer. Apenas fui. Novamente, me senti feliz porque seu amigo me desejou boa noite.

Como minha tia havia me mandado dormir mais cedo que o normal, fiquei suspirando e me revirando na cama, sem um pingo sono. Perto das dez, senti vontade de usar o banheiro, então abri a porta de fininho e saí do quarto.

Mas... antes que eu pudesse atravessar o corredor, escutei a conversa alheia.

A maldita conversa... Alheia.

— Eles dizem que ele não vai recuperar a memória, que o caso do Jimin é diferente do que eu estou pensando, e... — Suspirava. — Eu estava esperançosa, e ainda estou. Eu li sobre pessoas que perdem memórias, mas depois de um tempo recuperam. E o tempo todo que elas viveram sem as memórias é esquecido. Elas simplesmente voltam a ser quem eram antes.

Eu me encostei na parede, confuso e assustado.

— Ah, não diga isso... — o Kim falou. — Já tem dois anos que ele acordou. Ele iria sumir completamente, e você sabe que esse não é o caso dele.

— Eu não acredito nisso, não acredito no que os médicos dizem — ela falava, com a voz engrossando. — Eu não me importo se ele desaparecer, contanto que se lembre da minha irmã.

Eu apertei as mãos na minha calça de pijama, com o coração ardendo e os olhos cheios de lágrimas. Do que ela está falando?

Como assim sumir?

— Querida... Ele está se adaptando tão bem. Ele está bem agora, você... Você deveria escutar o doutor e parar com essas consultas frequentes de uma vez, se concentre nele e...

— Eu não me importo se ele está se adaptando ou não, ele não tem o direito de viver por aí como se fosse o mesmo garoto que esteve com minha irmã! Ele é um completo estranho, você sabe que ele é um impostor! Essa vida não é dele!

Por quê?

Por quê...?

— Por Deus, não diga coisas assim! Ele sofreu um acidente, não foi possuído, ele é o mesmo! Pare de repetir essas coisas para si mesma!

Meu amigo não tão imaginário {jikook} EM REVISÃOWhere stories live. Discover now