Isso foi apenas o começo. Ela ainda ia surtar muito.

Eu usava toucas o tempo inteiro por meu cabelo ser "chamativo", até que um dia minha tia me chamou e, sem mais delongas: o raspou por completo. Eu não me importei em estar careca, mas fiquei chateado por ela ter o feito sem me falar nada. Ela só... Fez.

Literalmente disse: senta. Ligou a máquina e raspou até o último fio de cabelo dourado que me restava.

Eu passei a frequentar um curso que ficava em frente ao nosso prédio, onde aprendi a ler e escrever em um ano. Minha tia Sooyeon me matriculou em um outro curso um tempo depois, um pouco mais longe, por isso me ensinou a pegar os ônibus para que eu pudesse ir e voltar sozinho. Pode parecer impossível, mas nós não desenvolvemos nenhum relacionamento durante dois anos.

Ela tirava minhas dúvidas bobas sobre as roupas que eu deveria usar, e como eu deveria lavar a louça nos dias da semana. Quando eu tinha um programa novo durante a semana, ela me explicava ele para que eu o fizesse sozinho e não precisasse de sua ajuda. Quando eu sentia fome, eu não tinha coragem de pedir comida para ela, então somente esperava-a fazer o jantar. Nós construímos uma relação superficial e fria, na qual só nos comunicávamos para falar sobre coisas da casa, dos estudos e dos médicos, mas nunca sobre nós mesmos.

A gente sequer se dava bom dia e boa noite. Éramos completos estranhos vivendo juntos em uma casa.

O tempo se passou como um piscar de olhos. Com certa idade, minhas consultas foram diminuindo, mas jamais terminando. Uma vez em especial, meu médico disse algo que me deixou confuso e intrigado...

— Jimin, garoto. Eu sinto muito... — Ele deu um sorriso sem ânimo. — Mas você precisa fazer sua tia aceitar que isso não vai acontecer.

Confuso como sempre, eu indaguei:

— O que não vai acontecer?

Antes de obter respostas, minha tia entrou na sala. O médico, então, resolveu falar para nós dois:

— Eu posso continuar atendendo o Jimin para checar se está tudo certo com a saúde dele, mas vou suspender todos os exames que você insiste em fazer para ver se ele vai recuperar memórias passadas. Ele não vai. — Ele estava sério e eu apenas observava, completamente perdido.

A minha tia o olhou e eu podia ver como ela estava com raiva da situação.

Portanto, saí do quarto quando ela mandou-me o fazer. Depois de algum tempo, a mesma saiu furiosa do consultório. Era estranho como eu a seguia, entrava no carro rapidamente antes que ela fosse embora e entrava em casa antes que ela fechasse a porta. Ela nunca me esperava entrar: eu precisava ser rápido o bastante para me encaixar em seus passos.

Mesmo depois daquele médico, no mês seguinte, eu já estava frequentando outro. Eu decidi perguntar para um deles sobre o que exatamente eu estava fazendo ali, e ele me contou sobre o ferimento na minha cabeça. Me apontou o lugar e tirou todas as minhas dúvidas sobre ele, apesar de não me dizer como arranjei aquilo.

— E você acha que eu vou recuperar alguma memória...? — eu perguntei.

Sim, eu era todo esquecido das coisas. Tudo era confuso e deformado quando o assunto era pensar nos dias antigos, eu tinha... Dificuldade. Muita. Mas não era de tentar, eu simplesmente pensava que era normal. Mas minha tia estava fazendo todo aquele esforço para que eu parasse de ser assim. Era realmente tão importante?

De qualquer forma, naquela época eu não tinha coragem de perguntar absolutamente nada para ela. Então estava sempre na dúvida.

— Não, Jimin. Você não vai, na verdade, é impossível. — Deu um sorriso triste. — Sinto muito por você ter que passar por isso.

Meu amigo não tão imaginário {jikook} EM REVISÃOWhere stories live. Discover now