Uma história de amor

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Ontem me olhei no espelho e senti raiva. Raiva de mim pela negligência.
Raiva do mundo pelo julgamento.
Só 17 anos e o mundo pensa que já pode te prender por não seguir a regra.
Maldito padrão, pensei.
Minha prima de 10 anos riu da minha cara quando eu disse que não sei usar lápis de olho.
Meus olhos são azuis, o que pode ser mais destacado que isso?
Quando uso rímel sinto um peso. E como vou chorar com tanta tinta no rosto?
E porquê perder tanto tempo me maquiando?
Ser alta é bom se você for modelo. Ter pernas compridas é horrível. Disseram que seria melhor dar uma “engrossada” nas coxas.
Fiz 1 semana de academia e desisti.
Doloroso demais. E pra quê?
A única vantagem seria não ter que usar roupas folgadas por falta de opção.
E pra quê andar empinando? Pra um monte de velho ficar tarando quando você passar?
Tudo bem eu desistir.
Não era certo fazer exercícios que odeio por causa do efeito que um corpo bonito causa nos homens.
Alguém disse que eu era magra demais. Outro alguém disse que eu estava engordando.
Por dúvidas, fiz uma dieta. Terminei na cama de um hospital.
O corte de cabelo foi pior que o quis fazer nos pulsos.
Feminicidio talvez. Querem me matar aos poucos porque sou mulher.
Fiquei triste por ser a única não assediada naquele bairro de alta classe.
Meu nariz ainda não estava deformado por causa da plástica. Talvez porque não tivesse namorado rico pra me pagar uma.
O motivo de levantar todas as manhãs era o mesmo pelo qual troquei a carne vermelha por comidas sem gosto. Não havia motivo.
As atrizes na TV de repente me pareceram tão feias.
Logo eu, a feiura em pessoa.
Hoje me olhei no espelho e me senti viva. Cansei de querer ser todo mundo. Eu sou eu.
Quem gostar bom. Quem não gostar bom também.
Cada um tem suas preferências e preferi me amar.

Para Meninas Where stories live. Discover now