A Ordem

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Ela estava parada a poucos passos dos Mestres, olhando para um ponto fixo à frente. Segurava uma lança de dois metros na mão, uma arma grande para seu tamanho. Seus cabelos dourados estavam presos numa trança que quase chegava à altura da cintura, que balançava levemente ao vento.

A armadura de couro, com detalhes em metal, cobria o tórax, mas deixava os movimentos dos braços e dos ombros livres. Protegia também o abdômen, do estômago até a cintura. De lá, caía num saiote de couro coberto com placas verticais de metal polido que recobriam suas coxas até quase chegar aos joelhos. Braçadeiras e caneleiras de couro, com reforço em aço, completavam a bonita peça. Por baixo de tudo, ela vestia uma camisa branca coberta com um espartilho, junto a uma saia de pano grosso que caia até os joelhos. Essas vestimentas internas protegiam a pele do atrito gerado pela armadura. Seu nome era Adana.

Seu semblante sério, firme, contrastava com as feições delicadas de moça jovem. Ela tinha um ar de determinação, concentrada num ponto a cinquenta metros de distância. Lá, havia um alvo de palha, na forma de um homem de pé com os braços abertos, com um ponto no meio do peito, no lugar onde deveria ser o coração, pintado em tinta vermelha.

O tórax de Adana subia e descia profundamente. O suor escorria por todo o rosto e mesmo assim não tirava sua beleza. Ela já havia perdido a conta de quantas vezes tinha completado a sequência de exercícios, mas, na prova final de pontaria, acertou o ponto vermelho apenas metade dessas vezes. Era um feito realmente impressionante acertar um alvo do tamanho de uma maçã a cinquenta metros de distância com uma lança, mas ainda estava longe de agradar o Mestre. Não queria errar mais uma vez e, por isso, estava se concentrando ao máximo.

– Agora – disse a voz grossa do Mestre que estava mais próximo.

Ela deu dois passos para frente, pegou impulso com o braço e arremessou a lança num movimento gracioso e preciso. A lança subiu e descreveu um arco em direção ao alvo. Ela ouviu um riso sarcástico vindo dos outros Mestres, que observavam a uma certa distância. Ficou tensa enquanto via a lança descer em direção ao alvo, cada vez mais perto, mais perto...

– Maldição – disse ela baixinho para si mesma quando a lança caiu meio metro à direita do alvo. O Mestre mais próximo, Gideon, que estava usando um robe marrom com capuz, suspirou fundo.

– Conjurar maldições não fará sua pontaria melhorar, Adana. Deve limpar sua mente de pensamentos externos que desfoquem do seu alvo. Tire de seu coração toda a raiva, a angústia e a apreensão.

Ela ouvia tudo de cabeça baixa, frustrada, e justamente sentindo aquela raiva proibida. O Mestre continuou:

– Vá agora e faça mais uma vez. Você terá que completar todo o percurso quantas vezes forem necessárias, até acertar o coração do alvo vinte vezes.

Adana ficou em silêncio por alguns segundos e, quando tomou coragem, disse:

– Mestre... Acredito que passar por todo o percurso me deixa extenuada, e o cansaço limita minha pontaria. Eu acertaria o alvo sem problemas se não tivesse que...

– Se não tivesse que correr, lutar, nadar ou escalar antes? – interrompeu o Mestre, rispidamente. Sua voz era calma e lenta, mas a jovem claramente entendia o tom de repreensão contido naquelas palavras. – Você acha que os inimigos estarão em campo aberto, bem ao alcance de sua lança? Acha que esperarão você se concentrar para ter uma precisão certeira? É óbvio que não! Você jamais terá chances limpas e claras de acertar o alvo, isso não acontece fora da proteção desses muros que nos cercam. Lá fora, você terá que se concentrar em meio a inúmeros perigos. Agora vá, faça mais uma vez.

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⏰ Last updated: Dec 14, 2018 ⏰

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O Barão de Munt CasprioWhere stories live. Discover now