Ele estranhou mas veio até a mim e sorriu.

-Alice? Está tudo bem? - uma esperança cresceu nos olhos dele.

-Está tudo bem e contigo? - pelas olheiras profundas é óbvio que não. - Podes por favor ligar ao Brandon ele não me atende. - disse rápido.

-Ligar-lhe? - ele estava confuso.

-Por favor! - os meus olhos cintilaram e ele acenou que sim.

-Alice como é que está a Jane? - ele perguntou com carinho e tristeza.

-Não está melhor que tu... - esta era a verdade nua e crua, ela queria me convencer que estava tudo bem mas às vezes são nas pessoas mais inconstantes que encontramos paz. - Eu sei que tu gostas dela Dylan por isso não desistas.

Ele pareceu mais descontraído e ligou-lhe.

A espera foi enorme, se ele atendesse é porque comigo não queria falar de certeza.

Talvez eu merecesse...

Mas eu não mereço! Eu fiz o que tinha que ser feito, fiz-o para ele perceber que quando as pessoas gostam uma da outra não a magoam, não a provocam e deixam-na.

Foi isso que eu fiz? Foi.

Sou hipócrita? Sou!

Mas nunca disse que era perfeita, todos erramos, todos falhamos e entrar num jogo tão forte como este mexe connosco.

-Aqui tens ele não sabe que és tu. - Dylan.

-Obrigada Dylan. - sorri-lhe.

-Brand? - estava tão nervosa.

-Alice? - ele responde do outro lado da linha.

-Porquê é que me ligaste tantas vezes? - ele não estava irritado o que é estranho.

-Eu eu eu - tremi. - Estou aqui para ti, sabes disso certo? - era tão sincero que deixei de tremer e gaguejar.

-Eu sei. - ele disse com dúvida passado alguns segundos.

-Confias em mim? - nunca pensei que fosse eu a dizer-lhe isto mas aqui estamos nós...

*

O meu vestido era simples mas muito bonito e elegante, era um tecido fino azul marinho que contrastava com a minha pele ainda um pouco morena do verão passado.

O meu cabelo estava perfeitamente penteado e usava uns sapatos cor bege, ao pescoço o colar da minha mãe azul escuro virava a atenção para a minha cara.

Saí do carro do Jack e senti a brisa de inverno em Seattle, o céu estava iluminado pela lua e pelas estrelas e as ruas calmas e chiques estavam mobiladas com cuidado.

Respirei fundo e olhei para a mansão enorme onde tinham sido as minhas primeiras festas da faculdade, o jardim com jovens pouco vestidos e a música alta tinham sido substituídos por pessoas em vestidos e fatos elegantes e música clássica que quase não se ouvia do sítio onde estava.

Ganhei coragem e dirige-me à entrada, comecei a imaginar como seria o pai deles, provavelmente um homem elegante e conservador que saltaria à vista entre os de mais.

Como seria o pai do rapaz que me traiu e que me beijou pela primeira vez e do pai do rapaz que faz o meu coração saltar e faz-me perder toda a razão.

Senti alguns olhares estranhos quando passei a porta, eu não estava assim tão diferente deles em termos de estilo mas era uma miúda e não me parecia com algumas que por ali passavam que usavam jóias caras e flores no cabelo.

Era uma miúda simples e parecia o elo mais fraco, comecei a ficar mais nervosa e neste momento só duas pessoas me podiam salvar, a senhora Olly ou o Brandon.

Espero que ele venha, ele disse-me que sim mas não seria a primeira vez que me deixava sozinha assustada.

A única diferença é que desta vez estava na boca dos lobos e antes estava segura.

-Uma entrada? - um senhor de fato perguntou-me com uma bandeja ele parecia atrapalhado.

-Não obrigada, precisa de ajuda?

-Não, não está tudo bem senhora. - ele disse com receio e (medo?).

-Por favor. - agarrei no tabuleiro mais pesado prestes a cair. - Eu ajudo-o. - a minha voz era doce e ele acabou por aceitar.

-Obrigada mas talvez não o devesse fazer. - a voz dele era baixa.

-Porque não? - realmente não percebia.

-As pessoas não são como você, elas vão olhar e julgá-la por estar a ajudar um garçon.

-Então são as pessoas que deviam ter medo de ser julgadas. - sorri com calma e o senhor sorriu de volta agradecido.

E assim foi passei alguns minutos a ajudá-lo até ele ter tudo bem preparado e depois voltei para a enorme sala de estar mesmo a tempo de me olharem de lado com algum nojo por ter ajudado, automaticamente agarrei-me ao colar que trazia ao pescoço, era a minha forma de me proteger.

O colar tinha pertencido à melhor pessoa que eu conheço por isso protegeria-me mas foi quando ele entrou que o meu coração aqueceu e esqueci tudo à minha volta.

Eu sabia o que as pessoas pensavam porque em certa parte todos somos um pouco assim, um rapaz de tatuagens vestido num fato preto, o filho rebelde e que envergonha os pais que acabou de entrar e captou à atenção de tudo e todos.

Mas sabem no que eu pensava?

O quão assustado ele estava, como os olhos verdes contrastavam com o fato, como as tatuagens eram parte dele e faziam tanto sentido, eu pensava no filho que seguiu o seu próprio caminho, que não teve medo de ser quem realmente é e que, no entanto, ninguém deu a mão.

Ele não era perfeito, aliás ele era imperfeito e era nessa certeza de ser tão imperfeito que se tornava a pessoa mais sincera e incrível que eu conheço.

E um sorriso rasgado apareceu na minha cara quando os olhos dele encontraram os meus e tudo o resto, todo o medo e anseio pelo resto da noite naquela mansão rodeada de má línguas era irrelevante. 

                                                                                        *

Olá tudo bem?

Obrigada por lerem e esperarem, vou tentar publicar amanhã! ❤❤

Beijocas!!






Choque frontalWhere stories live. Discover now